Mykonos-89

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    Claudius interrompeu a conversa, dizendo alegremente:
    – Eu, com certeza, não posso. O máximo que consigo é trocar algumas palavras com as árvores da floresta.
    Todos riram da brincadeira. Após alguns segundos, quando os três recompuseram-se, Percilio pediu a palavra, se dirigindo a Claudius, falou:
    – Como eu disse, Dr. Alecsander me pediu para esperar um pouco para lhe fazer uma visita, porque ele queria que Hipólito pudesse ter tempo para contar detalhadamente tudo que se passa na Comunidade da Grande Pedra e quem são seus moradores.
    Desta vez foi Hipólito quem falou.
    – Como você sabe que eu contei a Claudius tudo que sei a este respeito?
    – Ora, porque foi Dr. Alecsander quem te intuiu a dizer, e ele me disse que você o faria.
    – Que mistério é esse Percilio? Estou me sentindo pouco à vontade com esta conversa.    Retrucou Claudius.
    –  Não se preocupe, logo saberá aonde quero chegar. Afirmou Percilio, e prosseguindo, disse:
    – Precisamos ter uma longa conversa, mas para isso, você precisa se recuperar totalmente. Agora, gostaria que  me contasse tudo que Sara lhe disse antes de desencarnar.
    Claudius se surpreendeu com a mudança de direção da conversa, mas algo lhe dizia que precisa revelar tudo o que sabia sobre este assunto. Começou dizendo:
    – Estava esperando o momento adequado para falar sobre isso, mas parece que chegou o momento.
    Imediatamente o nativo Hipólito interrompeu o raciocínio do alquimista, colocando:
    – Eu vou sair um pouquinho, sinto que não devo participar desta conversa.
    Levantou-se e saiu, sem dizer mais nenhuma palavra. Tanto Percilio, quanto Claudius permaneceram impassíveis, aguardando apenas o início da conversação que traria muitos entendimentos do por quê de energias invisíveis terem agido no sentido de aproximá-los.
Assim que se viram a sós, Claudius pigarreou e a seguir, disse:
    – Filho, acho que posso chamá-lo assim quando estivermos sozinhos.
    Percilio esboçou um largo sorriso e deu um caloroso abraço naquele homem que sempre lhe despertou amor incondicional.
    – Eu fiquei muito triste quando as chuvas que caíram no verão passado nos impediram de vê-lo, faziam muitos anos que não nos encontrávamos e a saudade era muito grande. Eu e Sara queríamos muito conhecer sua segunda filha e abraçar Sibila novamente, mas quis o destino que isto não acontecesse.
    Claudius deu a entender que este assunto o deixava muito entristecido, mas mesmo assim prosseguiu.
    – Foram anos, que todos os dias, Sara falava de você e do amor que sentia explodir em seu peito. Eu ouvia e concordava com ela, mas não conseguia entender a intensidade deste sentimento, até o dia que ela adoeceu. Naquela manhã, percebi que algo a incomodava, mas na hora, não consegui precisar o que era. Levantou-se cedo, e como de costume foi até o riacho buscar água para nos banharmos, passada mais de uma hora, como ela não voltava, resolvi ir ao seu encontro. Encontrei-a caída na beira do riacho, aparentemente tinha tropeçado, mas quando me aproximei, percebi que tinha perdido a força nas pernas. Ela chorava convulsivamente, pois, por mais que tentasse não conseguia se por em pé. Eu a carreguei até nossa cabana, coloquei-a na cama, e desde este dia, não mais andou. Tentei buscar todo o conhecimento que tenho por plantas e outros preparados, mas nada surtiu efeito. Ela definhava dia a dia, e foi aí que algo estranhíssimo começou a acontecer.
    Percilio ouvia atentamente o relato de Claudius, ao mesmo tempo que uma voz feminina velha conhecida, lhe dizia:
    – Filho, seu pai precisa entender tudo o que se passou comigo naquela época, pois sem isso, ele não poderá trabalhar junto com você e prestar o precioso auxilio que ele já está preparado para oferecer. A minha paralisia teve como objetivo, voltar a atenção do seu pai para o que ocorre no mundo invisível. Ele, na ânsia de me curar, passava horas ao meu lado, ouvia tudo o que eu lhe dizia, sem ralhar, nem ao menos se afastar uma única vez, mesmo não conseguindo entender exatamente o que acontecia comigo. O Grande Deus é sábio meu filho, ele tem muitos subterfúgios para fazer com que aqueles que traçaram uma determinada missão, a cumpram, caso o merecimento esteja presente.
    De início, Percilio ficou um pouco confuso, mas como um passe de mágica o entendimento de todo aquele mistério começou a tomar vulto em sua mente. Algo passou como um rastilho de pólvora em sua consciência, a dona daquela voz era com certeza Sara, e ela, assim como Claudius já tinham sido muito importantes para sua vida em algum momento do passado. Então, mentalmente, ele se concentrou nas palavras que vinham aos borbotões, deixando de prestar atenção no relato do velho alquimista. Em um dado momento, Claudius percebeu que o filho parecia estar sintonizado em outra frequência, interrompeu o que falava naquele momento, disse:
   – Filho, você está entendendo o que estou lhe dizendo?
   Percilio chacoalhou a cabeça como que se estivesse colocando as ideias em ordem, respondeu.
   – Desculpe, é que Sara está falando ao mesmo tempo que você e não estou conseguindo acompanhar o que está me dizendo.
   Com ar de quem fora contrariado, o alquimista respondeu:
   – Eu estou lhe dizendo exatamente que Sara conversava com uma menina que já não estava neste mundo, enquanto eu tentava distraí-la contando histórias de minha infância e agora vem você com esta mesma história?
   – Pai, enquanto estamos sozinhos, prefiro chamá-lo assim, isto me faz bem, as lembranças de como fomos felizes na cabana da floresta, eu, você e Sara, parecem voltar. Mas o que era mesmo que você me dizia?
   Claudius aparentando aborrecimento respondeu rispidamente:
   – Filho, vamos parar com esta brincadeira de conversar com fantasmas e concluir nossa conversa civilizadamente?
   Rindo muito, o menino Naim tomou a palavra:
   – Pai, a partir do seu total restabelecimento, você e eu vamos cuidar de muitos doentes do corpo e do espírito, enquanto o nativo Hipólito, meus irmãos Lêntulo e Mirla, meu primo Albertinho, meu pai Jonas e nosso amigo Rafael, nos auxiliarão com sua boa vontade e capacidade.
    Claudius, com as feições de quem não havia entendido direito, retrucou:
    – Como assim? Eu vim para cá porque sua mãe me pediu e sempre pensei em continuar trabalhando em meus preparados e prosseguir vendendo para meu amigo Merriot, ele mesmo me disse que não importava a distância, se precisasse, pediria que seus empregados viessem buscar os remédios aqui na Grande Pedra.
    Percilio, ainda ouvindo a voz de Sara que lhe dizia:
    – Seu pai é um cabeça dura, muito cuidado com o que vai dizer.
    A seguir, o rapaz pensou um pouquinho e falou:
    – Pai, você acredita no grande poder que vem de outros mundos e que o único responsável por isso é o Grande Deus?
    – É lógico, meu filho. Respondeu Claudius prontamente.
    – Então, acredite, o Grande Deus está nos pedindo para permanecermos unidos e trabalharmos em prol de um único objetivo: Auxiliar quem está precisando!
   Neste momento, Jonas entrou na caverna de Hipólito. Ele ficou sabendo que Percílio conversava com Claudius e achou que seria uma ótima oportunidade de se redimir de seu comportamento ingrato e de poucos amigos. Assim que entrou, percebeu que os dois estavam sérios, parecendo que a interrupção não tinha sido oportuna. Para se redimir do ato atabalhoado,  Jonas disse:
    – Perdão, vejo que cheguei em má hora, volto depois. Fez menção de se retirar.
    Foi Percilio que primeiro se recompôs dizendo:
    – Pai, você nunca chega em má hora, muito pelo contrário, acabava de dizer a Claudius que precisávamos permanecer unidos para que possamos auxiliar quem está precisando.
    A afirmação de que precisavam permanecer unidos, caiu como uma bomba na consciência de Jonas. Ele se lembrou imediatamente do velho Messias que não se cansava de dizer a mesma coisa, sentiu como se o pai estive presenciando a cena. Tentando se integrar na conversa e curioso para saber o que motivou tal afirmação, Jonas disse:
    – Eu vim até aqui porque Hipólito me disse que vocês dois estavam em sua caverna  conversando. Gostaria de aproveitar o momento para dizer que estou profundamente feliz de ter você, Claudius, como um novo integrante da Comunidade da Grande Pedra e também te pedir Percilio que não se aborreça com este velho cabeça dura que várias vezes colocou-o em situação de escolher entre ele e Claudius. O meu amor por você, meu filho, é tão grande, que às vezes tenho atitudes que não condiz com a serenidade que a situação requer, afinal, você só está aqui hoje porque teve a felicidade de encontrar um lar onde pessoas bondosas e fieis ao Grande Deus o acolheram.
    Alternando seu olhar entre Percilio e o alquimista, Jonas assumia a posição de colocar uma pedra sobre tudo o que passou, mas muito além de onde  os olhos terrenos conseguiam alcançar, uma horda de espíritos velhos conhecidos comemoravam o feliz encontro. A partir daí, novos ares soprariam sobre a Comunidade da Grande Pedra, trazendo a união a tanto buscada. O fato de Jonas espontaneamente refletir e corrigir  sentimentos de ingratidão e mágoa que pairava sobre o seu espirito desde o retorno de seu filho, fez com que a vibração de toda a Comunidade se fortalecesse em direção a superar os últimos acontecimentos voltados ao sectarismo.
    Percilio e Claudius não cabiam em si de felizes, apesar de Jonas já ter sinalizado que não tinha nada contra a permanência do alquimista nos limites da Comunidade, ele ainda não tinha se pronunciado tão diretamente a respeito, se dirigindo a ambos ao mesmo tempo. Percilio foi o primeiro a falar após se recompor da emocionante surpresa.
   – Pai, louvo aos céus seu desprendimento em vir até aqui e nos dizer palavras tão belas, tenho certeza que Claudius também ficou muito feliz.
   Olhou para seu segundo pai e percebeu que lágrimas escorriam por sua face. Claudius  não poderia desejar um recomeço melhor que este, por isso a imensurável emoção. Pousando firmemente o olhar nos olhos de Jonas, falou com voz embargada:
    – Meu amigo, somente um pai tão sensível e justo poderia gerar um filho como o meu Nael, o seu Lucas, o nosso Percilio, precisamos agradecer ao Grande Deus.
    E os eternos grandes amigos se abraçaram e de mãos dadas oraram e agradeceram tanta felicidade e harmonia.

continuação… 

 

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