Mykonos-73

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  Olhou ao redor, aguardando que alguém se manifestasse, o único movimento que se viu foi Laura dando as costas e se afastando visivelmente contrariada, sem nada dizer. Após alguns segundos, ouve-se uma voz feminina ecoando no meio do grupo. Era Mariane, que disse:
  – Meu irmão, você bem sabe que eu te amo e desejo tudo de melhor para sua vida, mas não posso deixar de lamentar sua decisão, todos sabem que aquela caverna é mal-assombrada, temo pelo futuro de minhas sobrinhas.
  Novamente um silêncio mortal, ouvia-se até o farfalhar das folhas sendo movimentadas pelo vento norte que nesta época do ano soprava com muita força. Percilio pensou um pouco  e disse:
   – Minha querida, não se preocupe, Joninho está em um bom lugar, cuidado por mamãe e pelo Grande Deus, nada existe dentro daquela caverna que possa nos fazer mal.
  Mariane inconformada, tentou retrucar, mas foi contida por Jonas, que disse baixinho em seu ouvido:
   – Cale-se, não há nada que o faça mudar de ideia!
   Percilio prosseguiu.
  – Em vista de que a única colocação foi de minha irmã, reafirmo, amanhã, eu, Mirtes, Sibila e Anita nos mudaremos para a caverna do andar superior.
   O embaraço foi geral, todos gostariam de endossar a opinião de Mariane mas como Percilio estava irredutível ninguém ousou dizer coisa alguma. A reunião prosseguiu sem maiores atropelos, todos concordaram que Percilio era suficientemente competente para assumir o lugar de seu pai, e ainda mais, algo no ar dizia para todos os moradores que ele seria um divisor de águas para aquela Comunidade. Mirtes ficou emburrada durante toda a reunião, não se conformava em ter que se mudar, ter que cuidar das meninas – cozinhar, lavar, nunca esteve dentro de seus planos.
   Assim que a reunião terminou, Percilio se dirigiu a caverna de Jonas e iniciou a arrumação para a mudança que ocorreria no dia seguinte, Mirtes apenas observou calada, até o momento que o marido pegou uma trouxa de roupas que estava cuidadosamente escondido no meio de muitas tralhas. Ela imediatamente pediu que ele não mexesse em seu conteúdo pois eram lembranças de sua mãe. Percilio ficou intrigado e curioso para saber o que continha dentro da pequena trouxa, mas como era de seu feitio, nada disse, entregou-a a esposa e prosseguiu a arrumação. Como as meninas estavam em companhia de Mariane e Jonas permanecia no exterior da caverna conversando com amigos, Percilio se sentiu a vontade de separar tudo que pertencia a sua família. De repente se deparou com uma pequena caixa, que possivelmente havia caído da trouxa que Mirtes havia levado, pois estava exatamente no mesmo local. O rapaz abriu a caixa lentamente e viu um grande diamante, o maior que já tinha visto, absolutamente perfeito. Naquela época era muito incomum pedras daquele  tamanho pertencerem a alguém que não fizesse parte da realeza. Percilio, muito confuso, fechou os olhos e exclamou:
  – Que novo mistério é esse? Com quem me casei?
  Neste momento a porta da caverna se abre e Mirtes entra transtornada, assim que saiu e se viu em um lugar seguro, revirou a trouxa e nada encontrou, além de roupas velhas. Ficou paralisada ao ver a pequena caixa de madeira de lei nas mãos do marido. Avançou sobre ele, tentando pegá-la. Percilio a empurrou e fez com que sentasse na cama, dizendo:
  – Você tem muito que me explicar. O que significa isso? Apontando para a caixa que ainda estava segurando com a mão direita.
  Mirtes ameaçou chorar, mas como não teve outra alternativa, disse:
  – Esta pedra pertenceu a minha mãe, no dia que ela morreu, eu fui arrumar as coisas dela na cabana em frente a Grande Pedra e a encontrei.
  – Não vai me dizer que não sabia de sua existência? Perguntou Percilio visivelmente contrariado.
  Ciente que não adiantaria mentir, Mirtes respondeu em um fio de voz:
  – Sim e Não!!
  – Como assim? Sim ou não? Gritou a marido.
  – Sim, eu sabia, mas nunca tinha visto, mamãe sempre a escondeu de mim, dizia que se eu a visse com certeza teria muitos anos de azar como aconteceu com ela. Mas hoje eu sei que ela não dá azar nenhum, muito pelo contrário, fará de seu dono uma pessoa rica e respeitada.
  – Então, você sabe que este diamante é valiosíssimo!
  – Sim, eu sei, minha mãe também sabia, mas o que ela não sabia era o que fazer para vendê-lo e receber o dinheiro que a deixaria muito rica. Acho que era por isso que ela não queria que eu o visse, para não eu sentir vontade de partir daqui, no fundo, ela sempre acreditou que você poderia me fazer feliz.
  Percilio pensou um pouco e disse:
  – Quero saber em detalhes como esta pedra foi parar nas mãos de Sibele.
  Mirtes reagiu como se já esperasse a pergunta, pois a resposta veio na ponta da língua.
  – Ela herdou de seu pai, portanto é minha de direito.
  – Você está mentindo e não vai sair daqui enquanto não me disser toda a verdade sobre este diamante. Vociferou Percilio.
  Vendo que não poderia mais esconder a origem da pedra, a jovem abaixou a cabeça e disse:
  – Minha mãe ganhou de um amante que a roubou de um antigo patrão, um homem riquíssimo que morava em Atenas.
  – Bem, pelo visto, sua mãe e você foram parar na casa de Claudius por um motivo bem diferente daquele que contaram.
  – É verdade, disse Mirtes, prosseguindo:
  – Meu pai é um bom homem, mas minha mãe o odiava por sua falta de ambição, para ele, tendo o que comer já era o suficiente, mas ela queria mais, muito mais. Quando conheceu Carlos já tinha planos de partir e deixar meu pai. Ele a assediou de todas as maneiras até que ela cedeu, na noite que ele foi assassinado, mamãe estava presente. Vários homens entraram na sua casa e o esfaquearam até a morte. Minha mãe se escondeu ao lado da cama e ninguém a viu, pois estava muito escuro, a lamparina apagada. Assim que se deu conta do que tinha acontecido, mamãe voltou para casa apavorada, ela tinha certeza que os homens buscavam o diamante, eles, com certeza voltariam no dia seguinte para procurar.
 – Então sua mãe roubou o diamante? Perguntou Percilio intrigado.
  – Não!! Gritou Mirtes.
 – Ele pediu que minha mãe guardasse a caixinha de madeira.
 – Não me diga que ela não sabia o que ela continha. Retrucou o rapaz.
  – Sabia, pois Carlos lhe contou como veio parar em suas mãos, mas disse também que ele seria o passaporte para a felicidade dos dois e que o antigo dono era tão rico que não devia ter dado conta de sua falta.
  – No dia seguinte, minha mãe me contou tudo e decidimos armar um plano para sair de Lagos, foi aí que Tio Claudius entrou.
  Percilio estava estupefato com a história revelada por Mirtes. Pensou um pouco e disse:
  – Mirtes, não preciso mais de detalhes você pode parar por aqui, levante-se e vamos agora até o mar jogar este diamante.
  A jovem balançou a cabeça como se não tivesse entendido, levantou-se de supetão e disse:
  – Você não tem este direito, esta pedra é minha, eu não permito que você faça isso!
  – Então pegue-a e desapareça daqui! Eu tenho certeza que ela dá azar mesmo, minhas filhas não precisam crescer com esta maldição rondando.
  Mirtes abaixou a cabeça desconcertada, Percilio não costumava mudar de ideia, portanto não havia o que argumentar. Apesar de não saber como negociar a pedra, o simples fato de ter sua posse já lhe dava uma sensação de poder que ela não sabia de onde vinha. Então a opção é partir sem olhar para trás ou permitir que o marido se desfaça do único bem valioso que possuía.
  Após alguns minutos de silencio absoluto, Mirtes ergueu a cabeça e disse, marcando cada palavra com eloquência:
  – Você venceu, mas saiba que eu o odiarei por isso pelo resto dos meus dias.

continuação… 

 

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