Uma voz firme, mais suave, respondeu:
– Percilio, não se aflija, breve você entenderá este mistério capaz de trazer à vida atual, entes que amamos em outras vidas. Por hora, preste bem atenção, converse com seu pai e diga a ele que está pronto para assumir a liderança da Comunidade, a partir de hoje se inicia uma nova etapa em sua vida, ao lado de suas filhas, prosseguirá um trabalho que se iniciou em uma vida passada.
O embaraço causado pelas afirmações das duas meninas logo se dissipou. Muitos abraços de congratulações invadiram o pequeno ambiente. Mariane, que tinha deixado o irmão Cirilo aguardando do lado de fora da Grande Pedra, notícias da chegada da nova sobrinha, correu para dar as boas novas, no caminho, encontrou vários moradores, entre eles Raquel e Luiza.
Assim que avistou a irmã de Mirla, Raquel disse para filha:
– Pela alegria de Mariane, deu tudo certo.
– Ainda bem mamãe, não gostaria de estar na pele das duas intrometidas se o bebê morresse. Respondeu Luiza.
Mariane não se deu conta da energia de baixa vibração que envolvia mãe e filha, disse feliz:
– Correu tudo bem, a menina se chama Anita e é linda como um miosótis!
Prosseguiu caminhando, sem esperar resposta, pois estava ansiosa para ter com Cirilo. Meia hora atrás ela estava na plataforma de areia em frente a Grande Pedra, entretendo as meninas enquanto suas mães cuidavam de trazer ao mundo a criança predestinada, quando Cirilo chegou. Deixou mais cedo o trabalho na plantação pois se sentia enjoado e com muita tontura. Tinha dormido mal a noite anterior pois sonhos estranhos o haviam deixado muito preocupado. Sonhou que a Grande Pedra tinha sido invadida por uma onda gigante, acordou com os gritos de Mirtes, mas quando se levantou para acudi-la percebeu que dormia profundamente, assim como seu pai, seu irmão e Sibila, não conseguiu mais adormecer, foi para a plantação sem vontade de trabalhar e durante toda a manhã imaginou que seu sonho pudesse indicar algo ruim que estava prestes a acontecer. Assim que chegou na Grande Pedra, se deparou com Mariane e as meninas, ficou sabendo que o bebê estava a caminho, um sentimento de profunda angustia o invadiu. Sentou-se ao lado da irmã e disse:
– Eu não estou bem, acho que fui atingido por uma tempestade invisível.
– Como assim? Perguntou a jovem.
– Sonhos são premonições, por isso, quando sonho com algo que me impressiona, eu demoro dias para voltar ao normal.
– Nossa Cirilo, que sonho foi esse?
Assim que o rapaz fez menção em responder, Celeste, a menina que não perdia nada, falou primeiro:
– Tio, minha amiga já chegou e não precisa se preocupar, o moço bonito me disse que o mar ficará quietinho onde sempre esteve.
Os dois irmãos se olharam estupefatos. Mariane, se recompôs primeiro, dizendo:
– Então vamos ver se sua amiguinha chegou mesmo.
Segurou as mãos das duas meninas, e adentrou a Grande Pedra, sem olhar para Cirilo.
O rapaz ficou um bom tempo divagando, pensou em como sua mãe fazia falta, na morte de Joninho e o porquê de sonhos, aparentemente sem significado, mas que tinham o poder de deixa-lo tão perturbado, não viu o tempo passar, até que sentiu a presença de Mariane. Ergueu a cabeça, perguntou:
– E aí mana, o bebê já nasceu?
– Já, é uma linda menina que se chamará Anita.
Mariane sentou-se ao lado do irmão, narrou detalhadamente o que havia acontecido assim que ela entrou na caverna de Jonas.
Cirilo, como se não tivesse entendido, disse:
– Eu não acredito que uma menina que mal aprendeu a falar possa saber de coisas que ninguém sabe. O Grande Deus deve estar querendo nos testar.
– Como assim Cirilo?
– Mamãe me disse um dia que o Grande Deus sempre testa se acreditamos mesmo que ele existe.
Mariane ouviu, respondeu displicentemente:
– Irmão, acho que você ainda não entendeu que somos todos instrumentos do Grande Deus para espalhar o amor.
Era a primeira vez, em todos estes anos, que Cirilo ouvia de sua irmã mais nova uma afirmação tão enigmática, decidiu que aquele não era o momento para aprofundar no assunto, afinal, ele não se sentia à vontade de pensar que havia amor envolvido na angustia que ele sentia nesta manhã, no futuro, a luz do entendimento brilhará sobre sua consciência e ele abraçará a frase que acabou de ouvir da boca de sua irmã, velha conhecida, com o ardor dos trabalhadores do pai.
Neste momento, muitos se aproximaram, querendo saber as novidades sobre o nascimento do bebê. A notícia que o parto estava em andamento pelas mãos inábeis de Mirla e Ana já tinha se espalhado, pela falta de uma postura mais adequada de Laurinha e Luizinha.
Raquel foi a primeira a perguntar:
– E aí, pelo que vejo o trabalho de parto já encerrou. Como foi?
Neste momento, Tereza, a menina que não se separava de Mirla, durante a difícil travessia da Italia para Grécia, a muitos anos atrás, disse:
– É claro que correu tudo bem, Mirla e Ana sabem muito bem o que estão fazendo, elas já trouxeram muitas crianças ao mundo.
Laurinha, a viúva de Joninho, tomando as dores da mãe, que reclamou muito por ter sido “expulsa” da caverna de Jonas, disse:
– Você só pode estar brincando, o fato de Mirla ter tido três filhos e Ana, uma só, e já em idade de ser avó, não quer dizer que elas tem “experiência” para fazer um parto. Minha mãe sim, é que tem esta capacidade, ela só não praticou mais, porque Maila não deixava, ela sempre quis ser a melhor.
Com isso, instalou-se definitivamente a desavença na Comunidade da Grande Pedra, por pouco, Tereza e Laurinha, não se atracaram, foram contidas por Cirilo e Lêntulo, que a muito não se dedicava ao trabalho na plantação, junto aos outros homens da Comunidade.
Mariane ficou estática, ao lado de Sibele, em absoluto silêncio. Assim que os ânimos foram contidos pelos dois rapazes, Laurinha, com os olhos ejetados de sangue, falou grosseiramente, apontando para a irmã caçula de Percilio:
– Vamos, desembucha!! Sabemos que você sabe o que aconteceu, assim que cruzou com minha mãe e minha irmã, entrou na caverna com as duas meninas, ficou em tempão e depois saiu sozinha.
continuação….