Mykonos-3

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    Todos estavam preocupadíssimos no aposento ao lado. Até as crianças ficaram quietas, ninguém ousava fazer nenhum comentário, pois a impressão que tiveram do estado de Jonas era a pior possível.
    De repente, a porta do quarto se abriu e Jonas apareceu de pé, apenas um pouco pálido. Deu alguns passos em direção aos familiares, dizendo:
    – Apressem-se, precisamos iniciar a caminhada até onde a embarcação está aportada.
    – Maila, apanhe nossa bagagem e peça para Josias levar, pois ainda sinto dores nas costas.
    Todos se entreolharam aliviados e cada um buscou se colocar de prontidão para darem início a grande viagem.
    Após quase duas horas de caminhada até o pequeno porto, o grupo chegou ao seu destino. Lá já estavam todos os outros passageiros, aguardando a ordem do capitão Mirko para adentrarem finalmente à embarcação.
    Depois de alguns minutos ouviu-se um apito estridente e o capitão apareceu a estibordo abanando uma bandeira vermelha convocando a todos para embarcarem. Primeiro entraram as mulheres com crianças pequenas, depois as crianças maiores, as outras mulheres e finalmente os homens. Após quarenta minutos, todos os cinquenta passageiros já estavam acomodados, ou seja, se ajeitavam como possível. Não havia muito espaço, mas ninguém reclamou, afinal esta era a única opção de fugirem de seus algozes.
    A viagem começou embalada pelas palmas de todos os passageiros que ao mesmo tempo entoavam uma antiga canção veronesa, cuja letra fazia menção à companhia de algo maior sempre presente.
    As crianças abanavam as mãozinhas acompanhando as palmas ritmadas dos adultos. Foi um momento de muita emoção que jamais esqueceriam.
    O capitão Mirko ergueu a âncora exatamente às duas horas da tarde do dia nove de junho do ano trezentos e vinte e dois AC.
    A embarcação deu um tranco e lentamente flutuou em direção ao mar aberto. Jonas sentiu um grande alivio assim que viu o capitão guardar a grande âncora enferrujada embaixo das cordas que a mantinham presas a bombordo. Suas costas ainda doíam muito, mas a satisfação de ter conseguido tirar sua família daquele local tão inseguro era maior que o incômodo causado pela batida.
    Rubens se aproximou dizendo:
    – Irmão, agora nosso destino está em suas mãos, você a partir de agora substituirá papai. Todos nós te obedeceremos.
    – Como assim? Perguntou Jonas, sem ao menos tomar fôlego.
    Rubens ladeado por Josias, Alberto e Atílio que se aproximaram, assim que viram os dois conversando, disse:
    – Jonas, no momento que ficou sozinho no quarto após a queda, nós quatro fizemos um pacto.
    Completou Josias:
    – Se você conseguisse se recuperar a ponto de poder viajar, nós prometemos que seria você a nos conduzir nesta nova vida. Todos nós te ouviremos e seguiremos suas decisões.
    Jonas ficou lívido, um turbilhão de acontecimentos povoou sua mente, em especial estes dois meses quando ninguém se entendia, discutiam todos os dias sem chegar a nenhuma conclusão de consenso geral. Um pensamento estranho invadiu sua mente como uma fagulha de carvão.
    – Foi papai que provocou aquele tombo inédito para que iniciássemos nossa nova vida unidos.
    Voltou a si assim que Josias lhe deu um chacoalhão.
    – Irmão, acorda! O que há com você?
    – Parece que vai desmaiar novamente.
    Jonas olhou para os irmãos longamente, parecendo que realmente ia desfalecer. Sua mente ainda estava sob a influência daquele pensamento aterrador. Como alguém que já morreu poderia ter este poder?
    – O que foi mesmo o que você disse Josias a respeito de ser eu a conduzir o futuro da família? Conseguiu finalmente dizer.
    Josias ficou mais aliviado com a pergunta do irmão, afinal ele estava de posse de suas qualidades mentais apesar de parecer prestes a ter uma sincope.
    Respondeu suavemente:
    – Não se preocupe com isto agora. Mais tarde, conversaremos a respeito.
    Jonas acenou com a cabeça concordando com a afirmação do irmão e se dirigiu a um assento de madeira rústica ao lado da vela principal.
    Fazia aproximadamente duas horas que haviam partido, já não mais avistavam a costa italiana, estavam em alto mar. Metade dos passageiros estavam mareados, uns vomitavam curvados na lateral da embarcação, outros, de tanto mal estar choravam amparados pelos amigos mais próximos.
    Maila, sentada ao lado de Jonas filho, embalava Mirla que chorava desde que partiram. Nada conseguia consolá-la, dizia a todo instante que queria voltar para casa porque vovô Messias não tinha vindo. Ela adorava o avô, desde que fez um ano vivia correndo atrás dele, querendo colo ou pedindo que ele lhe acariciasse os cabelos. No dia de sua morte, ela acordou febril com aparente resfriado então Maila achou melhor levá-la  para a plantação, pois naquele dia colheriam algodão e a menina poderia ficar sob a sombra de uma grande macieira que crescera solitária ao lado do caminho que os levava ao local onde trabalhariam naquele dia. Como Mirla não melhorou ao longo da manhã, Jonas pediu que Maila a levasse até a vila onde havia um amigo de nome Rafael que tinha conhecimento de como fazer para manipular ervas medicinais. Quando chegou na casa de Rafael, ele não estava, pois havia ido até onde seus pais moravam, em uma localidade próxima.
    Maila foi recebida por Ana, esposa de Rafael, que disse:
    – Maila, por favor, pegue esta criança e venha comigo, os bárbaros estão atacando as vilas ao nosso redor, breve chegarão aqui. Rafael saiu desesperado por temer por seus pais e irmãos.
    Maila apertou a filha nos braços e correu atrás de Ana em direção ao curral. Esconderam-se debaixo do feno das vacas. Assim passou-se quase duas horas, a menina ardia em febre nos seus braços, mas nada podia fazer naqueles momentos de desespero a não ser colocar o dedo mindinho na sua boca para que se acalmasse.

continuação…. 

 

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