voltar a introdução
Ao ouvir as palavras de seu irmão, Jonas sorriu aliviado. Completou:
– Vocês não se arrependerão. Conseguiremos. Tenho certeza absoluta.
As crianças lideradas por Jonas filho começaram a gritar em coro:
– Vamos para Grécia! Vamos para Grécia!
Aos poucos as nuvens escuras que pairavam sobre a família foram se dissipando. Sendo substituídas por alegria e esperança.
No íntimo, todos sabiam que não foi por acaso que o velho Messias exigiu a promessa que jamais se separariam. Neste momento os cinco irmãos se sentiam fortalecidos e prontos para enfrentar os desafios que com certeza viriam, mas o fato de permanecerem juntos era a certeza que jamais ficariam sozinhos.
Foram dois dias de intensos preparativos. Jonas aconselhou a todos que levassem apenas o estritamente necessário, e assim foi feito, a bagagem de toda a família se resumia a apenas três sacos de aproximadamente cem litros. O navio, ou melhor, a rústica embarcação à vela era pequena e frágil e quanto mais leve mais fácil chegaria ao destino. Era de propriedade de um pescador grego que quando soube do intenso fluxo imigratório entre os dois países não perdeu a oportunidade de arrecadar algum dinheiro, trocou temporariamente a pesca pelo transporte de cidadãos Italianos com medo das invasões bárbaras. A embarcação comportava no máximo, cinquenta pessoas, e destas, trinta e sete eram membros da família, alguns por parte de Cira, esposa de Messias, falecida no parto do caçula Atílio a vinte anos atrás.
O grande dia amanheceu nublado e frio, todos ficaram temerosos, Jonas pensou em conversar com Mirko, o capitão da embarcação e adiar a viagem, mas como por volta das dez horas da manhã as nuvens se dissiparam e o sol apareceu radiante, ele desistiu de cancelar a viagem, reuniu a família em sua casa e pediu que todos juntos orassem para os Deuses que protegem os mares, os acompanhassem, trazendo ondas tranquilas e tempo firme durante a viagem.
A partida estava marcada para as duas horas da tarde. Logo após as orações, Jonas pediu que seus quatro irmãos o acompanhassem até o quarto onde seu pai ocupava com Alice. Assim que abriu a porta, um forte cheiro de incenso se fez presente, Josias, Atílio, Alberto e Rubens entraram respeitosos. Jonas fechou a porta, dizendo:
– Irmãos, eu pedi que vocês viessem até aqui porque precisamos reverenciar a memória de papai.
Atílio completou:
– E também aos outros membros da família que se foram.
– Você tem razão meu irmão.
Respondeu Jonas, prosseguindo:
– Mas o que eu quero mesmo é dizer que papai está conosco aqui e agora. Precisamos orar por ele.
Os irmãos se entreolharam receosos, o máximo que sabiam é que os mortos ficam dormindo em um lugar secreto que nunca se descobriu onde é, a vida física se findando acabou-se a possibilidade de aproximar-se do ente que partiu.
– Irmão, que conversa é essa?
Perguntou Rubens rispidamente.
Jonas contrafeito respondeu:
– Eu não sei o que está acontecendo, mas agora, neste momento estou vendo claramente papai sorrindo sentado na cabeceira da cama.
Todos ao mesmo tempo, dirigiram os olhares para o local indicado. Atílio e Alberto disseram em coro:
– Não vejo nada!
Rubens, cada vez mais alterado, falou:
– Você deve estar sob o efeito de alguma planta alucinógena. Precisa descansar antes de partirmos.
– Acho que é a expectativa da viagem que está mexendo com sua sanidade mental, completou Josias.
Jonas, sem saber como prosseguir afirmando o que via, pediu apenas que seus irmãos fizessem uma oração e esquecessem o assunto, pois, com certeza, ele estava sob efeito de muita pressão e isto tinha mexido com seus nervos.
Após orarem respeitosamente, os irmãos acenderam mais incensos de mirra e saíram do aposento um a um; menos Jonas, que ao se ver sozinho fechou a porta, com receio de olhar para a cabeceira da cama, ficou de costas para ela e disse:
– Papai vá embora, eu sei que estou perfeitamente bem. Você está aí sim. Não sei por que só eu posso vê-lo e nem quero saber. Vamos partir daqui a pouco e nada fará com que eu mude de ideia. Nem se voltar do local para onde foi depois que morreu e me pedir.
Após pronunciar estas palavras, Jonas ouviu claramente a voz de Messias, seu pai, que dizia:
– Filho, vire-se que precisamos conversar.
Neste momento, Jonas se sentiu apavorado, pois afinal era a voz de seu pai, seus pensamentos ficaram confusos e se sentiu desfalecer, suas pernas tremiam e já não sustentava o corpo avantajado. Caiu, batendo suas costas na mesinha que ficava ao lado da cama. Ao ouvirem o barulho todos correram para o quarto e encontraram Jonas caído no chão. Desmaiado.
– Como isto pode acontecer!
Gritou Maila, tentando reanimá-lo, pois ele se mantinha imóvel parecendo não ouvi-la.
Rubens e Alberto ajudados por Atílio, o colocaram na cama de Messias. O que se seguiu foi um desenrolar de lamentações, ninguém sabia o que fazer. Faltava apenas três horas para a embarcação partir e ninguém iria se Jonas não pudesse ir, afinal ele era o líder da família Massina.
Aos poucos ele foi voltando a si, ficando ciente da gravidade da queda pois sentia todo o corpo formigando e as pernas não se moviam.
– Meu Deus, será que vou ficar paralítico?
Foi a primeira coisa que pensou.
Jonas filho, de seis anos, ao lado da cabeceira do pai, disse pesaroso.
– Papai, você precisa se levantar daí porque senão nós vamos para Grécia sem você.
Ao ouvir tal afirmação, Jonas pai, replicou:
– Saiam todos daqui, quero ficar sozinho. E você filho, não se preocupe, papai também vai com vocês.
– Agora saiam! Você também Maila!
Disse em tom autoritário.
Assim que a porta se fechou, Jonas olhou para cabeceira da cama, dizendo:
– Papai, agora quem quer conversar com você sou eu. Por favor apareça.
Após alguns segundos, a figura sorridente do pai apareceu no mesmo local onde estava anteriormente, olhou para seu filho, e disse:
– Jonas, não sabia que era tão medroso, eu só queria me despedir de você. Não precisava desmaiar desta maneira, você quase pois tudo a perder.
– Papai, eu vou ficar paralítico?
Foi a única coisa que lhe veio à mente naquele momento.
Messias com ar de diversão disse:
– Claro que não, amanhã estará apenas com uma dorzinha nas costas. Prosseguiu dizendo:
– O que eu queria te dizer antes de sua queda era que jamais acredite que a morte corta todos os vínculos com a vida que acabou. Isto não é verdade, tanto é, que estou aqui agora, conversando com você, como nos velhos tempos. A espada dos bárbaros não foi capaz de me afastar de vocês.
– Mas pai, como isto é possível? Perguntou Jonas.
– Filho, isto é possível porque quem cuida de tudo e de todos é um Deus bondoso e amigo. Ele não pede nada em troca, apenas diz que é o amor o sentimento que remove montanhas.
– Portanto, prosseguiu Messias, jamais se deixe levar pelas aparentes dificuldades que se avizinham. Ore pelo Deus amigo e caridoso que permitiu que seu pai, mesmo depois de morto, conversasse com você. Peça com amor que ele lhe ouvirá.
Neste momento, Jonas ouviu um tilintar de sinos e diante dele apareceu Alice, sua irmã mais velha e Cira sua mãe. Os três acenaram as mãos e desapareceram. Jonas ficou como que hipnotizado com aquela cena, demorou alguns minutos para que se recobrasse.
continuação…