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Minha irmã, mais calma, enxugou as lágrimas e disse:
– Ainda não havia pensado desta maneira, mas penso ser injusto ela exigir que eu faça tudo, afinal sou apenas uma e não posso deixar de vir até aqui todos os dias, pois a companhia de Suzana me trás muita alegria e o que eu aprendo com você, tenho certeza, é de muito valor. Considero a possibilidade de vir morar com vocês, se concordarem.
Fiquei sem saber o que dizer, se negasse eu a magoaria profundamente, se aceitasse, mamãe jamais iria me perdoar. O pedido através do pensamento foi instantâneo:
– Grande Deus o que faço?
Neste momento, ouvi uma voz que dizia:
– Aimanon, busque a resposta no Grande Livro Azul que está na segunda prateleira à direita, abra-o e leia para Catarina.
Olhei para trás e vi o livro azul: “A Tradução da Verdade” que eu ainda não havia lido, abri-o e li em voz alta:
– “Ninguém é de ninguém. Cada filho de Deus é livre para fazer o que desejar, em vista disso, as escolhas são de inteira responsabilidade de cada um. Nortear decisões extremas com a visão limitada de um pequeno acontecimento é se expor ao erro, aumentando-o, porque nada que se liga ao todo é desintegrado do todo, portanto, ao se utilizar a liberdade de escolha dada pelo Pai jamais enxergue apenas um instante separado de todos os outros.”
Ao terminar, Catarina e Suzana me olhavam como que aturdidas. Como eu havia escolhido um livro ao acaso e lido uma página qualquer e nela a resposta clara como um cristal de quartzo. Catarina falou primeiro, dizendo:
– Vou conversar com mamãe, dizendo o que estou sentindo e confessar que não posso deixar de vir até aqui, mas que também não posso morar com vocês pois a amo e não será um pequeno atrito que me fará decidir fazê-lo.
Foi o que fez, no dia seguinte nos contou feliz, disse que mamãe a havia liberado de fazer os serviços de Claudia pois os dividiria com vovó e assim tudo se resolveu, o que ficou foi uma bela lição de paciência e discernimento.
A vida prosseguiu serena, apenas com a ansiedade de Claudia com relação ao casamento, finalmente o grande dia chegou, a noiva não se cabia de tanta felicidade. Suzana e Catarina foram cedo para casa de mamãe ajudá-la a se arrumar. A cerimônia seria na casa de Tia Adelaide, que era maior e mais confortável. Tudo correu muito bem, no fim da tarde Claudia e Artur Monelo já estavam casados. A cerimônia foi bonita como a do meu casamento com Suzana, apenas a ausência dos meus três tios foi sentida por todos os presentes, apesar de eu tê-los visto ao lado de minha irmã. Tio Nuno estava com aspecto rejuvenescido, quando percebeu que eu o enxergava, me disse através do pensamento:
– Aimanon, chegou a hora, meus netos já estão prontos para alegrar a sua casa, minha filha os receberá a partir do próximo verão.
Desapareceu, apenas Tio Elias e Tio Percilio ficaram mais um pouco, mas não disseram palavra, apenas observaram todos os presentes, um a um, e também se foram. Claudia e Monelo decidiram morar em Creta, na Grécia, pois este sempre foi a vontade de Monelo e ao pedir Claudia em casamento comunicou o seu desejo, tendo a concordância de minha irmã, que não titubeou em aceitar, ela o amava e queira agradá-lo. Mamãe, à principio ficou receosa, mas se vendo sem alternativa, concordou. Eles partiram no dia seguinte levando muitos sonhos e também muito amor.
Naquela noite, eu e Suzana conversamos muito sobre a coragem de Claudia em se lançar a esta aventura de olhos fechados, ela que ao longo dos anos recusou inúmeros pretendentes, alguns deles muito ricos. Minha irmã sempre soube que o seu futuro marido chegaria um dia, era só ter paciência e aguardar. Meu cunhado era um homem tranquilo, de fala mansa, que sabia o que dizia, pois argumentava com muita propriedade. Seu grande desejo, era ser Sacerdote e auxiliar os pobres e necessitados. A escolha de Creta foi proposital, pois lá ele teria oportunidade de estudar e concretizar seu objetivo. Quando conheceu Claudia, estava passando uns dias com a família em Constantinopla, mas já morava na Grécia, tinha casa e muitos amigos, trabalhava como vendedor no mercado da ilha, comercializando especiarias trazidas do Oriente, apenas não tinha se casado por dizer que a hora certa não havia chegado.
Agora começavam uma nova vida, que tinha certeza, traria muitos frutos em forma de ações do bem e filhos para prosseguirem a trilhar suas pegadas.
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continuação…