Constantinopla: A Eterna Luz
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CAPITULO 3
AS CRIANÇAS CHEGANDO
A manhã de domingo me pareceu especial, abri a porta e o sol entrou com todo seu esplendor e sem cerimônia. A brisa suave bateu no meu rosto e me refrescou, aquela noite tinha sido muito difícil, Suzana estava inquieta e não conseguia dormir, passou parte da madrugada lendo e quando voltou a se deitar sentiu muitas náuseas e enjoo, pensei que o peixe do jantar estivesse estragado, mas eu também havia comido e nada sentia, o outro motivo, que ela poderia estar grávida, era tão irreal e ao mesmo tempo tão prazeroso que me recusava a considerar para não me decepcionar.
Quando Catarina chegou, se assustou com a palidez de Suzana e me disse:
– Aimanon, vá buscar o Sacerdote Ramon, ela precisa de um chá para cessar este enjoo, porque à partir de agora precisa se manter ainda mais saudável, pois seu filho já está à caminho.
Suzana e eu ficamos paralisados, de repente, esta menina dizia algo que nós receávamos proferir, por medo de estarmos enganados, eu disse:
– Como você sabe Catarina?
– Eu não sei, tenho absoluta certeza, a voz me disse esta madrugada, que meu sobrinho já estava a caminho e só pode ser de vocês dois pois Claudia acabou de se casar.
Me arrumei apressadamente, sai de encontro ao Sacerdote. Quando eu relatei como Suzana estava e o que sentia, ele sorriu e me disse bondosamente:
– Filho, sua esposa está grávida, apenas isto, peça que repouse bastante e leve este chá que fará com que os enjoos desapareçam.
Me deu um saco com chá e pediu que eu tivesse muita paciência, pois o primeiro filho sempre nos trás mais dificuldades. Sai do Templo flutuando, finalmente meu filho viria. Após alguns minutos de caminhada de volta para casa, encontrei Menéas que se dirigia ao Templo para orar, ele me cumprimentou e disse:
– Meu amigo, a predição se cumpre, no verão vocês terão em sua casa a primeira das doze crianças já destinadas a serem criadas e educadas por você e Suzana.
Apressou os passos, e se foi, sem que eu tivesse tempo de responder. Cheguei em casa rapidamente, pois nos últimos minutos passei a correr sem que me desse conta. Cheguei arfando e suado, Catarina me perguntou sobre o Sacerdote Ramon, falei que ele não viria e pedi que me acompanhasse até o quarto, sentei-me ao lado de Suzana e disse segurando suas mãos:
– Querida, Catarina tinha razão, Sacerdote Ramon confirmou:
– Você espera nosso primeiro filho !
Vi lágrimas de alivio e felicidade escorrerem dos olhos de minha esposa, que disse:
– Aimanon, você tem certeza? Ele não pode estar enganado?
– Não Suzana, ele esta certo, após sair do Templo me encontrei com Menéas que disse que a predição que teríamos doze filhos começava a ser cumprida.
Nós três nos abraçamos com a força de um amor tão sincero que perdemos a noção do tempo e do espaço. O que sei é que permanecemos abraçados por muito tempo.
O domingo foi especial, Catarina, a pedido de Suzana, foi até à casa de minha mãe chamar a todos para darmos a grande noticia. Mamãe e vovó ficaram de inicio receosas, mas depois, vendo o ar de felicidade de Catarina desconfiaram. Vieram todos, Mirna e Triciana já não eram mais bebês e Lucius cada dia crescia mais, dando a impressão que ficaria maior que Antron.
A mesa foi posta com capricho por Catarina e vovó. Mamãe ficou ao lado de Suzana que ainda não estava totalmente recuperada. As duas conversaram animadamente, mamãe abandonou aquele ar reprovador que sempre trazia em suas feições quando se aproximava de minha esposa. Disse para Suzana que o seu grande desejo era ter um menino como primeiro neto, ela carinhosa respondeu:
– Minha sogra, eu também gostaria de ter um menino, mas se vier uma menininha ficarei muito feliz, o que importa é que sejam fortes e saudáveis.
Mamãe respondeu:
– Você tem toda razão, os Deuses nos enviarão uma criança bonita e com muita saúde, independente se menino ou menina.
Suzana sorriu, desde aquele episódio no dia da despedida dos meus tios para aquela fatídica pescaria, nós nunca mais retrucamos com mamãe a respeito de sua crença, mas toda vez que tinha oportunidade fazia questão de reafirmá-la, talvez para que não tivéssemos a impressão que estava retrocedendo em sua opinião. Nós aceitávamos e sem contestar pedíamos ao Grande Deus que retirasse os véus que cobriam seus olhos, mas isto jamais aconteceu, a inflexibilidade nunca a abandonou e permanece até os dias de hoje, dois mil e quinhentos anos após.
A reunião terminou no final da tarde, todos voltaram felizes para casa e eu senti que realmente algo novo se iniciava, meu coração me dizia a todo momento.
O verão chegou rapidamente, Suzana estava com quase oito meses, engordou bastante, mas se mantinha animada e disposta. Ela e Catarina, auxiliadas por mamãe, vovó e Tia Mirna, prepararam tudo que o nenê ia precisar. Eu e Antron fizemos o bercinho e Lucius fez pequenos entalhes com delicadas florzinhas.
Na manhã de um sábado, quando o verão já tinha atingido seu ápice, Suzana começou a sentir muitas dores, pedi que Antron chamasse Tia Croele, que era quem fazia todos os partos da família, parecia que o mal estar entre ela e Tia Adelaide tinha passado com a morte de Tio Nuno, mas o que eu não sabia é que ela ainda tinha muito ressentimento, não tinha perdoado Suzana por ter rejeitado seu filho Minélus.
Tia Croele veio rápido, ao entrar em casa, eu vislumbrei aquela silhueta esguia, toda vestida de preto. Senti um arrepio na espinha, e uma voz me disse:
– Não deixe que se aproxime de Suzana.
Como em um filme, toda a história que havia ocorrido me veio à mente e de repente vi Minélus com um aspecto horrível tentando pegar meu filho.
Saltei da esteira e me postei diante dela, impedindo que se aproximasse da porta do quarto. Sem cumprimentá-la, disse, olhando para Antron:
– Por favor, acompanhe Tia Croele de volta para sua casa, Suzana parou de sentir dores e agora descansa, acho que o bebê não nascerá hoje.
Ela esboçou protestar, mas viu que não teria sucesso, virou sobre os calcanhares e se foi, sem esperar por Antron.
– E agora como faríamos?
Pensei preocupado, mas a mesma voz me disse:
– Calma que tudo se resolverá.
Quando olho para porta vejo um vulto conhecido, era Tia Adelane que falou:
– Cruzei com Croele que me disse que eu deveria voltar porque o bebê não nasceria hoje, mas algo me diz que ela está errada e abriu um largo sorriso.
Eu a abracei aos prantos e pedi que visse Suzana porque realmente estava na hora. Tia Adelane não tinha tanta experiência como Tia Croele, mas já tinha feito muitos partos e sabia exatamente o que precisava ser feito. Pediu que Catarina colocasse água para ferver e entrou no quarto se juntando a vovó e mamãe que já estavam lá dentro. Fiquei na sala, ao lado de Antron e Lucius. Tia Adelaide chegou a seguir, e também aguardou conosco, dizendo que não teria coragem de ver sua filha sofrer.
continuação…