Mykonos-60

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  Nael ficou sem saber o que dizer, tanta a serenidade do velho médico e a noticia inesperada que ele acabava de dar. Como o rapaz nada dizia, o velho e calejado médico completou:
  – Se não quiser não precisa me responder, ela já está bem, e vocês podem prosseguir viagem assim que ela acordar.
  Dr. Alecsander fez menção em se retirar, mas Nael o impediu, dizendo:
  – Me desculpe doutor, esta notícia me pegou de surpresa, jamais imaginaria que tanto mal estar fosse por causa de um bebê e com relação a pergunta:
  – Sim, Mirtes tem um problema mental.
  Dr. Alecsander se surpreendeu com a objetividade e a lucidez do rapaz, na hora pensou: é bem mesmo filho de Jonas. Pensou em comentar a resposta, mas decidiu calar-se, ele sabia que Mirtes sofria de esquizofrenia, tinha sido alertado pelo amigo August, se a resposta de Nael fosse negativa, ele se sentia na obrigação de alertá-lo, mas como ele já sabia, apenas disse:
  – Filho, cuide bem dela, não deixe que sofra dissabores, isto pode desencadear crises de difícil controle.
  Nael assentiu com a cabeça, agradeceu os cuidados e saiu. Ao longe ouviu o choro de Sibila, ela tinha caído da rede, pois a enfermeira tinha seus afazeres e não ficou ao lado dela. Quando se aproximou o suficiente, percebeu que algo grave havia acontecido, ainda no chão, ela se contorcia de dor. Dr. Alecsander, alertado pelo forte choro, veio correndo, ao examiná-la constatou que havia quebrado o braço. Nael ficou desnorteado, culpou-se por tê-la deixado sozinha, mas nada podia ser feito, o braço foi imobilizado. O doutor avisou que ela não poderia ser transportada amarrada ao corpo do pai, sob risco da fratura se deslocar e o braço ficar definitivamente torto. Sugeriu que Nael fosse até a Grande Pedra e pedisse auxílio aos seus familiares, poderiam fazer uma amarra de um tecido bem forte e facilmente quatro homens a levariam sem maiores transtornos.
  Mirtes acordou muito inquieta, quando soube que Nael havia partido em direção a Grande Pedra, começou a gritar desesperadamente, sem ao menos saber o que havia acontecido. Pensou que ele havia levado Sibila e a tivesse abandonado. Dr. Alecsander foi chamado e explicou tudo, disse que Sibila estava sob os cuidados da esposa de Merriot pois como havia quebrado o braço, não poderia prosseguir viagem sendo transportada amarrada ao corpo do pai. Mais calma, Mirtes pediu desculpas ao médico e disse:
  – Senhor, meu marido me maltrata muito, por isso fiquei tão nervosa, achei que ele decidiu levar minha filha para me punir.
  O velho médico, percebendo a mentira deslavada que a mulher havia proferido, respondeu:
  – Minha filha, não acredito em uma palavra do que você me disse, seu marido é cortês e tranquilo, portanto, repense no que acabou de me dizer, se continuar assim, não demora muito e ele vai se cansar de viver ao seu lado.
  Virou as costas e saiu, esbravejando. Dr. Alecsander era um bom homem, depois de anos lidando com todo tipo de pessoas, sentia de longe as intenções de cada um, com Mirtes não foi diferente, apesar do diagnóstico de esquizofrenia, ele sabia que ela emanava energias que não eram condizentes com uma pessoa cujas intenções poderiam ser classificadas como nobres.
  Mirtes ficou paralisada com a reação do médico, assim que ele virou as costas, pensou:
  – Este médico é doido, onde já se viu falar assim comigo? De agora em diante ele está na minha lista de desafetos.
  Até aquele momento, Mirtes desconhecia que estava grávida novamente. Dr. Alecsander achou por bem não dizer nada, pois não sabia qual seria sua reação. Pediu que os atendentes a mantivessem na cama até que o marido retornasse.
  Nael, ou melhor, Percilio, caminhou rapidamente até a Grande Pedra, mesmo levando os dois cestos com os objetos da família. Por volta do final da tarde chegou ao seu destino, como estava uma temperatura agradável e o sol se pondo, todas as crianças estavam brincando na plataforma de areia que embelezava a entrada da Grande Pedra. Eram por volta de quinze crianças entre meninos e meninas de todas as idades. Assim que as viu, Percilio colocou as tralhas que carregava no chão e se aproximou lentamente. Como todos brincavam distraidamente, ninguém percebeu sua aproximação, inclusive as três mulheres que sentadas em uma pedra supervisionavam as crianças e ao mesmo tempo conversavam entre si. Uma menina por volta de dois anos chamou sua atenção. Ele pensou:
  – Como ela é linda! Parece um querubim! Filha de quem será?
  Ao prestar atenção nas três mulheres, reconheceu sua irmã Mirla, Luizinha, a esposa de Laercio e Ana, a esposa de Rafael.
  – Será que Ana conseguiu finalmente ser mãe? Pensou Percilio intrigado.
  Neste momento, um dos meninos gritou:
  – Tio!! Era Pedro, filho de Joninho e Laurinha.
  Todos se voltaram para onde o menino olhava e foi uma correria só, muitos bracinhos abertos correndo para ver quem abraçava Tio Percilio primeiro. Assim que todos saudaram o visitante, Mirla disse:
  – Não sei se vou conseguir te chamar de Percilio, para mim você sempre será Lucas, meu irmão querido.
  Sorrindo, o rapaz respondeu:
  – Me chame como quiser, mas saiba que só Percilio viveu o que Lucas e Nael viveram, Lucas não saberá te responder qual o remédio que curará sua dor de cabeça.
  Mirla espantada disse:
  – Como você sabe que sofro de dores de cabeça terríveis?
  – Papai me disse. Respondeu o irmão, e prosseguiu.
  – Então, se você quiser que eu a ajude a curá-la se acostume a me chamar de Percilio.
  Todos riram da brincadeira, mas Percilio sabia que havia algo que ele teria que cumprir e não poderia ser pensando como Lucas, nem tão pouco como Nael.
  Ana tomou a dianteira e disse:
  – Lembra de mim Percilio? No dia que Maila faleceu, minha filha Celeste estava febril e Rafael me pediu que eu ficasse com ela na caverna, não consegui nem ao menos te dar um abraço.
  Percilio olhou para a menina que havia visto ao longe e que havia chamado tanto sua atenção. Agora ela segurava a mão de Ana. O rapaz, erguendo-a para o alto disse:
   – Ana!! Parabéns!! Então você e Rafael são pais desta linda princesa?
   Ana envaidecida com as palavras de Percilio respondeu:
   – Sim, o Grande Deus me concedeu o presente de ser mãe.
   Mirla, atenta ao diálogo entre o irmão e a querida amiga, exclamou:
   – Percilio, Celeste só tem três anos e já gosta de colher as flores do campo para enfeitar a Grande Pedra. Olha o buquê de madressilvas que acabamos de fazer com as flores que Celeste e as outras crianças colheram.

continuação… 

 

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