Mykonos-59

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   Lucas sabia exatamente onde encontrar Claudius e Sara, e assim que se embrenhou na mata foi ao encontro do casal. Encontrou-os às voltas com um enxame de abelhas, precisavam colher o mel, que para eles, era uma preciosidade. Foi impossível Nael conversar com os dois como desejava, as abelhas estavam muito irritadas e o único jeito foi ajuda-los nesta empreitada, que acabou demorando muito. Quanto retornaram, a noite já ia alta, Mirtes tinha voltado para casa e Sibele aguardava o casal para o jantar. Nael decidiu deixar para o dia seguinte a conversa que queria ter com toda a família. Antes de se recolher, pediu que Claudius lhe desse um minuto de atenção. Pediu:
    – Pai, desconfio que Mirtes quer me pressionar para levar Sibele conosco, por favor, quando nos reunirmos amanhã, me auxilie, pois em hipótese alguma, permitirei que sua irmã vá conosco.
   Claudius, não disse palavra, apenas assentiu com a cabeça e se dirigiu a sua cabana. Ele sabia que Nael desconhecia tudo o que aconteceu durante a sua ausência. Assim que se encontrou com Sibele, disse:
   – Não há saída, você volta para sua casa, prosseguirá morando com Jairo, nem pense em insistir com Nael para que acompanhe Mirtes.
   Sara colocava os pratos mesa, parou um instante, olhou para Sibele, que apenas ouviu as palavras do irmão e disse:
   – Vamos jantar e dormir, amanhã cedo Nael quer conversar com todos nós e aconselho que você faça exatamente o que Claudius acabou de falar.
   Todos sentaram-se à mesa, em silêncio e nada mais foi dito. Na manhã seguinte todos se reuniram na cabana de Nael e Mirtes. O primeiro a falar foi Claudius, que disse:
   – Mirtes, ontem à noite conversei com sua mãe e a avisei que caso a decisão de Nael seja se mudar mesmo para a Grande Pedra, ela volta a morar com seu pai em Lagos e não se fala mais nisso.
   Olhou para Nael dizendo que ele poderia começar a reunião. Nael agradeceu, sentindo um grande alivio, tinha certeza que o feiticeiro havia resolvido o problema que o atormentava desde o dia anterior. Mirtes calou-se, diante da firmeza do tio, olhou para mãe e balançou a cabeça querendo dizer que tudo estava perdido.
   Nael começou dizendo que sua mãe havia morrido no dia que ele chegou. Claudius levou um susto, ele tinha ficado muito preocupado com a demora do filho, mas não imaginou que algo tão grave tivesse acontecido. Sara deu suas condolências. Mirtes e Sibele nada disseram. O rapaz prosseguiu:
   – O clima não estava muito amistoso, mas mesmo assim a decisão foi tomada. Eu, Mirtes e Sibila nos mudaremos para a Grande Pedra na próxima semana.
   Sara interrompeu dizendo:
   – Eu não sei o que você quis dizer com o clima não estava muito amistoso, mas seja o que for, não é melhor pensar mais um pouco.
   Nael respondeu de pronto:
   – Não mãe, já decidi, meu pai e meus irmãos precisam de mim mais do que nunca.
   Para quebrar o mal-estar que se instalou, Claudius disse:
   – Só nos resta auxiliá-los na mudança.
   Mirtes que até aquele momento permanecia calada, disparou:
   – Como assim? Você decide sozinho? Então se mude sozinho, eu e minha filha não iremos, ainda mais que minha mãe vai ter que voltar a morar com aquele louco.
   Segundos intermináveis, seguiram-se ao desabafo de Mirtes, parecia que todos buscavam palavras para dizer alguma coisa, finalmente Sibele disse:
   – Filha, não seja tão intransigente, voltarei a morar com seu pai. E você, acompanhe seu marido.
   Pela primeira vez, Nael sentiu uma ponta de admiração por aquela mulher, ao seu olhar, tão falsa e mentirosa. Assim, a reunião foi encerrada, cada um voltou aos seus afazeres. No momento que Sibele se viu a sós com a filha, disse:
   – Filha, tenho um plano, Claudius me levará até Lagos assim que vocês se mudarem, eu não voltarei a morar com seu pai, apenas fingirei que sim, assim que puder, vou procurar Meirinha, a filha de Neta, te garanto que descubro aonde é esta Grande Pedra, vou me encontrar com você, pode me esperar.
   Mirtes ficou felicíssima com a ideia da mãe, comentou, que assim Nael não poderia culpá-la de nada e com certeza esta Comunidade era um lugar que todos poderiam morar e não era possível que houvesse necessidade de se pedir autorização a alguém.
   A semana passou rápido, Mirtes de repente se mostrou muito feliz, arrumou tudo com muito cuidado. No dia da partida amanheceu indisposta, mas mesmo assim disse para o marido que aguentaria a longa caminhada. Todos os objetos foram acondicionados em dois grandes cestos que com o auxílio de um cabo colocado sobre os ombros, foram pendurados um em cada extremidade, assim, Nael conseguiria transportar toda a mudança. Sibila foi amarrada nas costas de Mirtes que prosseguiu com os braços livres para levar uma trouxa de roupas. As despedidas foram muito dolorosas, Sara soluçava de tanto chorar, Claudius manteve a serenidade, desejou felicidades e prometeu visitá-los assim que pudesse. Sibele fingiu tristeza por se separar da filha e da neta, mais no íntimo planejava uma grande vingança contra o genro. Não se conformava com o tratamento que lhe fora dispensado. Nael abraçou Sara, forte e demoradamente, agradeceu o carinho e o acolhimento, disse que jamais a esqueceria e que ela prosseguia sendo sua única mãe. O mais tardar, em três meses, voltaria para visitá-la. Com Claudius não foi diferente, era visível a emoção que tomou conta de pai e filho. Mirtes e Sibele, apenas observavam, desejando que tudo acabasse rapidamente, pois achavam que toda aquela choradeira era perda de tempo.
  Puseram-se à caminho da Grande Pedra nas primeiras horas da manhã, ao meio dia chegaram a Semiris, Mirtes estava muito indisposta, vomitou muito pelo caminho, a ponto de não conseguir mais carregar Sibila. Nael teve que amarrá-la em seu peito, ao mesmo tempo que transportava os cestos com a mudança. Ao adentrarem a cidade foram direto ao barracão onde Dr. Alecsander atendia os doentes, Mirtes mal conseguia caminhar de tanta fraqueza.
  O velho médico se assustou com o estado da jovem que ele havia atendido a mais de um ano atrás, mas cujas feições jamais esqueceu. Nael explicou rapidamente o que havia acontecido pelo caminho e aguardou que Dr. Alecsander examinasse Mirtes. Sibila estava muito inquieta, uma das enfermeiras que auxiliavam o médico providenciou um mingau de aveia e ofereceu a menina, só assim ela aquietou e em seguida dormiu pesadamente. O forte calor, a posição incômoda em que foi carregada, faziam com que Sibila sentisse dores pelo corpo, mas agora, descansando em uma rede, com certeza se recuperaria. Nael comemorou o sono da filha, ele estava exausto, sentou-se em um banco, recostou a cabeça em uma árvore e também cochilou. Acordou quando Dr. Alecsander o chamou, pedindo que entrasse no barracão. Nael atendeu de pronto, a enfermeira que trouxe o recado conduziu-o para junto de Mirtes, que naquele momento também descansava. O médico o levou para um dos cômodos anexos pois queria conversar reservadamente com o marido da jovem. Depois de um prolongado silêncio, o médico falou:
  – Filho, eu não tenho nada com a sua vida, mas desde a última vez que esteve aqui acompanhando sua esposa uma pergunta ficou pendente.
  – Naquela ocasião sua esposa não estava grávida, mas vejo que agora vocês tem uma filhinha e logo terão outro bebê, mas me responda meu jovem, sua esposa tem algum problema mental?

continuação…

 

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