Mykonos-31

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     Alguns anos se passaram, a Comunidade prosperava a olhos vistos, a paz e a harmonia reinava em todas as cavernas. Maila engravidara mais três vezes depois do nascimento de Lucas, apenas um menino e uma menina sobreviveram. A terceira criança faleceu dois meses após o nascimento, de gripe, devido a umidade que reinava dentro da caverna que sua família ocupava. Lucas se aproximava dos cinco anos, quando Joninho, agora com doze anos, anunciou que queria se casar.
     De início, Jonas achou que o menino estava brincando, mas como não era uma situação inédita para a época, acabou concordando, pois ele mesmo havia se casado antes de completar quatorze anos de idade.
     Maila, foi a princípio, absolutamente contra a ideia, pois dizia que nem uma noiva existia, como ele poderia se casar? Pergunta para a qual o filho já tinha uma resposta na ponta da língua:
     – Mamãe, o que importa é que preciso formar a “minha” família, a noiva tanto faz. Vou pedir para papai falar com primo Jeremias quem sabe ele permite que Laura se case comigo, ela já tem treze anos e outro dia me disse que já podia ser mãe.
     Nesta altura da conversa, Jonas interferiu dizendo:
  – Você sabe exatamente como é o gênio de primo Jeremias, o trabalho que deu para que ele concordasse que Luizinha se casasse com Laercio, e olha que ela já tinha dezoito anos!
     Jonas prosseguiu em um só folego:
    – Terêncio não está mais aqui para interceder. Portanto, se você quer se casar com Laurinha, fale com o pai dela você mesmo. Eu não vou te ajudar.
     Maila tentou interferir, mas se calou. Desde que se mudaram para a Grande Pedra, tem tentado apoiar todas as decisões do marido com relação a criação do filho rebelde. Joninho não se abalou com a negativa do pai, disse que primeiro ia conversar com Laura e se esta concordasse em se casar com ele, ele mesmo pediria sua mão a Jeremias. Foi exatamente isto que fez, assim que a noiva lhe disse que concordava em se casar, Joninho foi procurar Jeremias.  Disse sem rodeios:
    – Primo Jeremias, peço que me conceda a mão de sua filha Laura em casamento.
     O velho turrão levou um susto! Jamais esperava que um menino tivesse a coragem de lhe fazer um pedido daqueles. No primeiro momento pensou em lhe espezinhar como fez com Laercio – quando, com a voz tremula, lhe fez o mesmo pedido. Mas com certeza tudo que aconteceu no passado foram lições aprendidas. Sua filha mais velha estava casada, feliz com o marido que escolheu, era mãe de três lindas crianças – os netos que ele havia pedido ao Grande Deus. Então resolveu ser o mais cordial possível, afinal, ele era o filho mais velho do líder da Comunidade e pelo seu gênio forte e decidido, seria no futuro quem comandaria o destino de todos os moradores. Jeremias pensou um pouco e respondeu:
     – Penso que você é ainda muito jovem para desposar minha filha, mas se é isso mesmo que deseja, eu concordo, mediante a concordância da mãe dela. É claro que Laura já está sabendo do assunto e já aceitou ser sua esposa?
    – Sim, primo!  Caso contrário, eu não estaria aqui. Respondeu Joninho com toda deferência, aparentando ter muito mais que apenas doze anos.
     Raquel ficou muito feliz quando soube da novidade, pois temia que sua filha caçula não encontrasse pretendente, pois era muito quieta e arredia. Todos os outros quatro filhos eram meninos e se eles não constituíssem família seriam mais braços para ajudar na lida. O que ela não fazia ideia era que sua filha não era tão tímida como ela acreditava e que foi ela que despertou em Joninho a vontade de desposá-la.  Luizinha não ficou muito feliz com a notícia pois temia que sua irmã não fosse feliz ao lado do filho de Jonas, que era considerado ríspido e autoritário por toda a Comunidade. Ela comentou com Laercio:
     – Ele é ainda um menino, imagina quando ficar adulto e tiver que sustentar uma família numerosa. Com certeza, fará minha irmã infeliz!
   Laercio, com toda tranquilidade que era sua característica, respondeu:
   – Não se precipite Luizinha, Só o Grande Deus conhece o futuro, não podemos tirar conclusões baseados em algo que ainda não aconteceu.
     Quando toda a Comunidade ficou sabendo do próximo enlace, começaram os preparativos. A cerimônia foi marcada para o final da colheita de algodão daquele ano, dois meses após o pedido feito por Joninho. A noiva não cabia em si de contente, apesar da pouca idade, a muito já sabia exatamente o que queria, aguardava apenas o amadurecimento de seu corpo para seduzir o filho mais velho do líder da Comunidade. Este era o estágio máximo de poder que ela poderia almejar, pois a realidade para ela se resumia naquele pequeno grupo, de pouco mais de cinquenta pessoas. Em tempos remotíssimos, que antecedeu a vida em Contantinopla, Laurinha tinha sido mãe de Joninho. Naquela vida, ela não valorizou a concessão do Pai em permitir que um antigo desafeto pudesse novamente ser colocado sob o mesmo teto que ela para que sentimentos de ódio e exclusão pudessem ser transformados em amor e carinho. Esta vida se encerrou com um trágico desenlace. A mãe tirando a vida do filho.            Novamente o Pai  Celeste concedeu uma oportunidade de vivenciar – como marido e mulher – momentos que tendo o livre arbítrio de cada um como leme, terão a força de anular energias de baixa vibração que a muito os acompanham.
     O dia da cerimônia amanheceu nublado, parecendo que os céus não concordavam com o que estava prestes a ocorrer. No decorrer da manhã, uma chuva torrencial começou a cair, acompanhada de trovões e ventania. Joninho pensou em adiar a cerimônia, pois algo lhe dizia que Laurinha não era a mulher que o faria feliz, creditou o mal tempo a resposta do Grande Deus as suas indagações:       – Porque não me sinto feliz? Será que Laurinha não é a mulher certa?  Será que papai tem razão, sou mesmo muito jovem para me casar?
     Quando comunicou a noiva a sua decisão de não se casar naquele dia, devido o mal tempo, Laurinha ficou possessa, dizendo que estava tudo pronto e não aceitava nenhum adiamento. Se casaria nem que fosse dentro da caverna de seus pais. Joninho ficou muito confuso com a reação de sua noiva, pois era a primeira vez que demonstrava o seu lado autoritário e ríspido. Se lembrou das atitudes de Tânia e um arrepio percorreu sua espinha.
Ele respondeu à altura:
     – Quem decide sou eu, hoje não haverá casamento. Se insistir com esta ideia está tudo acabado. Não me caso mais com você.
      Laura levou um susto, pois teve a certeza que ainda não era hora de expor seu gênio irascível. Pediu desculpas ao noivo, dizendo:
    – Você tem razão, eu estou tão  ansiosa que acho que fiquei com os nervos abalados.
      – Peço desculpas!
    Joninho a desculpou, mas algo lhe dizia que estava dando um passo errado. A seguir se dirigiu sozinho para a caverna de Terêncio e Tânia, que após o enlace seria sua e de sua esposa. Deitou-se em uma esteira disposta do lado oposto da entrada, em poucos minutos caiu em um sono profundo. Sonhou que estava à beira de um precipício e que alguém tentava empurrá-lo. Virou-se rapidamente e viu Tânia e Laura com os braços estendidos, prestes a arremessá-lo no vazio. Acordou muito assustado. Sentou-se, recostando na pedra ao fundo, e numa fração de segundos teve a impressão de ter visto alguém entrando na caverna. Esfregou demoradamente os olhos, certificando-se que nada havia. Tanto o sonho como esta sensação estranha de estar sendo vigiado o deixou muito intrigado. Decidiu procurar seu pai e conversar com ele sobre o que havia acontecido.
     Jonas ouviu o relato em silêncio. Era a primeira vez que seu filho mais velho deixava de lado sua usual arrogância e pedia auxilio para um problema que o incomodava. No final Joninho arrematou que pensava seriamente em desfazer o noivado. O pai ouviu a última frase com uma ponta de preocupação, não seria de bom tom seu filho desistir do compromisso assumido. Isto levaria a um entendimento de que ele não era responsável por suas atitudes, o que prejudicaria sua liderança futura. Jonas falou pausadamente:
  – Joninho, agora é tarde para voltar atrás, nossa comunidade é pequena e unida, isto levantaria a ira da família de Laura e com toda razão. Foi você mesmo que decidiu se casar com ela, portanto, seja homem e leve esta decisão até o fim. O máximo que podemos fazer é adiar a cerimônia para daqui a uma semana.

continuação…

 

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