Mykonos-28

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    Juntou uma trouxa de roupas, pegou algum dinheiro que Terêncio guardava e correu escada abaixo, mas a confusão já estava armada, Maila tentou impedi-la de fugir, mas de nada adiantou, Tânia era muito mais forte e conseguiu se safar facilmente. No caminho para Semiris ela viu ao longe Joninho em companhia de Albertinho, que como sempre, havia sentido fortes dores de cabeça. Jonas pediu ao seu filho que o acompanhasse, receoso que o filho de Alberto sofresse do mesmo mal que ceifou a vida do pai. Inicialmente, Joninho protestou, mas não houve jeito do pai mudar de ideia e naquele momento, ele, como sempre, reclamava da lerdeza do primo. Albertinho foi o primeiro a ver Tânia vindo correndo no sentido contrário, disse ao primo:
    – Quem será que está vindo com tanta pressa da Grande Pedra? Pelos trajes é uma mulher.
    Joninho olhou, mas não conseguiu vislumbrar além de um vulto difuso pois desde pequeno ele sofria de uma forte miopia, que sempre tentou esconder de todos, especialmente do primo preferido de seu pai. Ele falou, como se estivesse vendo claramente quem se aproximava:
    – É mesmo uma mulher e pelo visto está muito apressada.
    – É Tânia! Gritou Albertinho, que enxergava perfeitamente.
    – O que será que ela faz aqui sozinha, Terêncio continua na lida. Disse Joninho.
    – O que faz eu não sei, mas parece que vai a algum lugar para não mais voltar, pois carrega uma trouxa bem grande.
    Joninho ouviu o que o primo disse e deixando-se denunciar, perguntou curioso:
    – Ela está com cara de quem aprontou?
    – Como assim Joninho, você não está enxergando?
    – É claro que sim primo, eu enxergo perfeitamente.
    Albertinho ficou muito desconfiado, principalmente porque ele o chamou de primo, pois ele só se referia a ele desta maneira quando estava mentindo. Em poucos minutos ficaram frente a frente com Tânia. Ela não gostou nem um pouco de encontrá-los, assim que os viu ao longe, pensou:
    – Que azar o meu, logo estes dois. Detesto o filho de Jonas, menino insolente e intrometido!
    Não houve jeito de desviar o caminho, mesmo porque não havia para onde. Joninho tomou a frente e falou:
    – Vejo que está fugindo, o que você aprontou desta vez?
    Ela ficou meio confusa com a pergunta direta do menino, mas mesmo assim esboçou um sorriso e disse calmamente:
    – Estou indo ter com Terêncio, nós combinamos ir até Semiris comprar umas coisinhas para mim.
    – Com esta trouxa enorme? Replicou Albertinho.
    Perdendo a paciência Tânia gritou:
    – Vocês são dois moleques intrometidos e eu não tenho que dar satisfações a vocês. Completou rispidamente:
    – Saiam da minha frente!
    Os dois se assustaram com a atitude da mulher e deram passagem para que ela fosse embora. Quando chegaram à Grande Pedra, as mulheres estavam em polvorosa, apesar do ferimento de Ana ter sido superficial, ela ainda sangrava muito e ninguém sabia como estancar o sangue. Maila disse para Joninho:
    – Volte para a plantação e traga Rafael o mais rápido possível.
    Antes que Joninho respondesse, Albertinho disse:
    – Eu vou subir até o ultimo pavimento, para ver se o vejo, quem sabe ele está na praia.
    Joninho calou-se mas achou excelente a ideia do primo e mais feliz ainda por ter sido ele a subir na Grande Pedra pois jamais conseguiria enxergar quem quer que seja daquela distância.
    Maila perguntou ao filho porque Albertinho tinha dito aquilo.
    Ele respondeu que Rafael disse para seu pai pela manhã que como o dia estava claro e sem vento, ele iria primeiro na praia buscar conchas e substâncias marinhas para seus remédios e só depois iria para a plantação e que todos deveriam rezar para que o primo o enxergasse lá de cima. Ana começou a chorar, chamando pelo marido e dizendo que iria morrer antes de realizar o grande sonho de ter um filho. Tereza pediu que se acalmasse, com certeza não seria daquele ferimento que ela iria morrer. Rosana, do outro lado da caverna, começou a chorar, dizendo que se não tivesse gritado, Ana não teria sido ferida e que ela mesmo deveria ter avançado sobre Tânia. Maila falou, abraçando carinhosamente a jovem:
    – Rosana, se você não tivesse gritado, Ana estaria morta neste momento, você salvou sua vida. Este ferimento, apesar de estar sangrando desta maneira, não atingiu nenhum órgão, logo ela estará bem.
    Neste momento Albertinho entra correndo na caverna dizendo que havia avistado Rafael mas que deveriam ir rápido pois parecia que ele já havia terminado o que tinha ido fazer na praia e se aprontava para partir em direção à plantação. Joninho correu em direção ao primo e falou:
    – Vamos primo, tenho certeza que conseguiremos alcançá-lo.
    Os dois saíram em disparada em direção à praia, deixando as quatro mulheres na expectativa que tudo se resolveria quando Rafael chegasse, e foi isso o que aconteceu. Passado um tempo bem curto, os três chegaram esbaforidos. Rafael correu em direção a Ana dizendo:
    – Meu amor, o que aquela louca teve coragem de fazer? Não acredito que ela tentou matá-la.
    -Pois pode acreditar! Completou Ana, com uma ponta de ciúme, ela teve a nítida impressão que seu marido ainda defendia a quase assassina.
    Após um rápido curativo, o ferimento parou de sangrar.  Ana se levantou e caminhou em direção ao outro lado da caverna onde se encontrava Rosana ainda sofrendo as consequências do susto, pois prosseguia chorando e se lamentando. Disse em tom maternal:
    – Minha querida você salvou minha vida, lhe serei eternamente grata.
    Rosana se levantou e as duas trocaram um maravilhoso abraço embalado por lembranças fugidias, onde a sensação de já ter sido um momento compartilhado em algum lugar do passado invadiu as duas amigas. Os Silva de Constantinopla prosseguiam compartilhando amor e gratidão, agora nas cavernas de Mykonos. Rosana tinha sido mãe de Ana naquela encarnação, mais precisamente Tia Mirna e Ana sua filha mais velha, Anele. Nesta vida, Rosana foi retirada do convívio de seus pais biológicos de uma maneira brutal, os bárbaros assassinaram sua mãe na sua presença, e quando avançaram em sua direção, ela correu agarrada no irmão mais novo, Nilo, que na época tinha doze anos. O menino morreu alguns dias depois, de tétano, devido um ferimento causado pela espada de um dos bárbaros. Rosana chorou muito, mas não havia nada a ser feito, além de enterrar o irmão e prosseguir a vida. Foi o que fez, ela tinha apenas quinze anos e foi acolhida pelos pais de Rafael, que depois de alguns anos, foram vítimas dos mesmos bárbaros que não contentes com o que haviam feito com a família da menina, retornaram para buscá-la. Um dos líderes do grupo havia ficado muito aborrecido por tê-la deixado escapar e queria levá-la para servi-lo no acampamento que ficava nas redondezas da vila onde ela estava vivendo. No dia que eles atacaram a vila, Rosana estava em companhia de Celina, uma senhora muito bondosa, que dividia com Celia e Claudio – pais de Rafael –  os cuidados com a menina órfã. Naquela manhã, os bárbaros estavam especialmente violentos, como não encontraram Rosana na casa onde tinham informações que ela estava vivendo, mataram a todos sem titubear e se dirigiram a outras vilas, prosseguindo o mesmo comportamento irascível.  Foi neste dia que o velho Messias e sua filha Alice foram mortos.

continuação…

 

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