Mykonos-16

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Assim que se aproximaram o suficiente, avistaram várias pessoas caminhando de um lado para o outro. Eles haviam chegado em um Porto que fora construído a muitos anos atrás para servir de apoio às embarcações que vinham de toda parte do mundo. À medida que marinheiros chegavam junto com as naus, uma grande Vila começou a ser formada. Ali comercializava-se de tudo, desde tecidos do Oriente até remédios produzidos na Europa. Os dois irmãos estavam abismados com o que visualizavam aqui e ali. Caminharam durante algum tempo no meio das pessoas, que conversavam em todos os tipos de idiomas estranhos, não conseguiram distinguir ninguém falando o italiano, até que, saindo de um armazém ficaram frente à frente com Dr. Alecsander. Este, esfregou os olhos, para se certificar que estava diante dos velhos conhecidos. Assim que o espanto passou, disse:
    – Amigos, vocês são as últimas pessoas que imaginei encontrar aqui.
    Jonas também ficou muito surpreso, afirmou com cara de poucos amigos:
    – Dr. Alecsander, o senhor sabia da existência deste local, porque não nos disse nada?
    – Peço perdão pela minha omissão mais eu tenho muito apreço pela Vila Cantar e gostaria muito que vocês se estabelecessem nas imediações, pois a anos continua pequena e subdesenvolvida, nós precisamos que novos moradores se interessem em morar lá.
    Sem dar muita importância às explicações do médico, Josias afirmou:
    – Doutor, foi o Grande Deus que o colocou no nosso caminho, nosso irmão Alberto está passando muito mal a alguns metros daqui, por favor, nos acompanhe até lá e veja o que ele tem.
    O médico, prestativo como sempre e querendo se redimir da atitude que tomou em cercear a liberdade de pessoas trabalhadoras que só queriam tirar da terra o seu sustento, disse imediatamente:
    – Vamos agora mesmo, eu vou partir daqui a duas horas, como ele está perto daqui acredito que dará tempo.
    Jonas ficou muito feliz com a atitude de Josias, lembrando-se do irmão, porque ele mesmo havia se esquecido, pensava em primeiro lugar encontrar compradores para os fardos de algodão. Os três partiram rapidamente, após quinze minutos de acelerada caminhada, já estavam ao lado do corpo agonizante de Alberto. Todos os quatorze homens que estavam ao seu lado já não tinham nenhuma esperança quanto à vida do amigo, ao verem Dr. Alecsander caíram em um pranto convulsivo, inclusive Atílio, que parecia totalmente descontrolado.
    O médico pediu para que todos se afastassem e começou a examinar o moribundo, após alguns minutos, olhou para todos e deu o diagnóstico. Ele teve alguma obstrução nas veias que irrigam o cérebro, portanto, se conseguir sobreviver, o que era muito difícil, ficaria totalmente comprometido para o resto da vida.
   Jonas deu um grito de dor, Josias, Rubens e Atílio se abraçaram emocionados, Rafael e Laércio se ajoelharam orando ao Grande Deus, os outros, ficaram tão chocados com a cena que presenciavam que mal conseguiam se mover. Passados alguns minutos, a previsão de Dr. Alecsander se concretizou, Alberto deu o último suspiro com a cabeça amparada no colo do irmão mais velho. Cercado pelos amigos de todas as horas. Dr. Alecsander se despediu constrangido dizendo que tinha que embarcar, mas antes, pediu para Jonas levar os fardos até o armazém que lá havia um comprador de nome Merriot, um francês que comercializava grãos vindos de toda parte do mundo.
  O corpo foi levado para a Vila e após uma breve cerimônia fúnebre, realizada por um ancião que conduzia as poucas cerimônias que ocorriam no lugarejo, Alberto foi enterrado em um pequeno cemitério situado nas redondezas de Semiris, pois não havia possibilidade de carregá-lo até o acampamento. A tarde já ia alta, quando terminaram a difícil tarefa de enterrar Alberto.
  Os fardos de algodão foram trazidos com a ajuda de alguns marinheiros que auxiliavam Merriot. Após algumas rodadas de negociação entre ele e Jonas, toda a produção foi vendida ao francês de origem ítalo-inglesa, ou seja, nascido na França, de pai italiano e mãe inglesa. Segundo ele, um cidadão do mundo. Enquanto Jonas negociava com Merriot no armazém, todos os outros aguardavam ansiosos do lado de fora. Atílio ainda chorava copiosamente e intermitentemente pedia perdão ao irmão que partira, por suas atitudes arrogantes e muitas vezes agressivas. Os outros permaneciam calados, mais a tristeza era visível nos olhos de cada um. Josias pensava em como iriam contar o ocorrido a sua cunhada  Beatriz  e aos dois filhos Albertinho e Tales, que já eram grandinhos e com certeza sofreriam muito, pois eram muito apegados ao pai amoroso e sempre presente.
    Já se aproximava das seis horas da tarde quando Jonas finalmente saiu do armazém acompanhado de Merriot. Um sorriso nos lábios denunciava que tudo havia corrido conforme o esperado. O francês se dirigiu ao grupo, dizendo em um italiano arrastado, mas totalmente compreensível:
    – Gostaria de parabenizar a vocês pelo algodão de tão boa qualidade que colheram, eu estou a inteira disposição para comprar qualquer tipo de grão que vocês produzirem. Há anos eu sabia da existência destes campos férteis, mas nunca me interessei em explorá-los, pois sabia que o trabalho seria imenso, agora vejo, que a ousadia de vocês deu grandes frutos.
    Prosseguiu:
    – Sinto muito o ocorrido com o seu irmão. Olhou para Jonas, apertou sua mão e voltou para dentro do armazém, que também era a sua residência.
    Jonas, ao se ver sozinho com seu grupo, contou em detalhes tudo que foi dito durante a conversa, completou:
  – Ele me pagou o suficiente para comprarmos equipamentos, roupas e viveres.
    E informou o valor total recebido em dinheiro vivo. Todos ficaram satisfeitíssimos com o montante conseguido pelos fardos de algodão, apenas Atílio, continuava alheio a tudo, aparentava estar em estado de choque. Jonas, ao perceber o estado do caçula, abraçou-o e levou-o até um banco próximo, onde disse no ouvido do arrependido irmão:
    – Atílio, você precisa se conformar, a morte é apenas uma passagem para uma vida muito melhor. Tenha certeza que Alberto está agora em companhia de papai, mamãe e Alice, em algum lugar que não sei onde é exatamente, mas lá todos são felizes e olham para que nós estejamos seguros e unidos. Atílio enxugando a lágrimas, respondeu:
    – Irmão, se arrependimento matasse, eu estaria morto agora, não consigo me esquecer das inúmeras vezes que agredi verbalmente Alberto e ele jamais retrucou, apenas me deu amor e carinho. Agora não tenho mais como pedir perdão.
    – Ore e peça que ele o perdoe. O Grande Deus levará suas palavras até nosso irmão.
  Levantaram-se ainda abraçados e caminharam lentamente em direção ao grupo que os aguardava. Josias, se dirigindo a todos, falou:
    – Esta noite, vamos acampar a beira mar, amanhã cedo, compraremos o que for necessário e partiremos.
    Foi o que fizeram. Quando o dia amanheceu radiante, Rafael ficou incumbido de comprar os remédios que por ventura pudessem precisar. Jonas e Atílio, foram até o armazém de secos e molhados, comprar o que fosse necessário para os próximos três meses, tempo que calculavam seria o suficiente para voltarem com o milho e a lentilha. Rubens foi até o cemitério levar algumas flores e orar pelo irmão, e os outros buscaram na Vila qualquer equipamento de segunda mão que pudessem levar. Por volta do meio dia, se colocaram à caminho de volta, desta vez, venceram as pedras muito mais rapidamente, em quatro horas já estavam bem próximos do acampamento. Quando faltava apenas quinze minutos para chegarem, Jonas pediu que todos parassem porque queria dar umas orientações. Começou dizendo:
    – A medida que nossa tarefa chega ao fim vitoriosa, temos outro desafio pela frente, o de informar o que aconteceu com Alberto. Peço que todos façam comigo uma oração e peçam ao Grande Deus orientação de como conduziremos este novo desafio.

continuação…

 

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