Prosseguiu Terêncio:
– Agora, gostaríamos de ouvir do próprio Jeremias a sua decisão.
Fez-se um silêncio mortal e a seguir ouviu-se um forte pigarro. Era o pai de Luiza que limpava a garganta para poder se dirigir ao grupo.
– Bem, todos sabem que não sou muito dado a falar em público, e também jamais imaginei que um assunto de família despertasse o interesse de todos.
Nesta altura, Jonas interferiu:
– Jeremias, nós somos uma grande família, a sua família é a minha família e vice-versa, por isso desejamos tanto que Luiza e Laércio sejam felizes e tenham a liberdade de escolherem o seu futuro.
Josias não aprovou a interferência de Jonas, achando que ela poderia interferir na decisão de Jeremias e provocar a eclosão de sua habitual teimosia, afinal ele disse abertamente que concordava com o casamento. O que ocorreu foi exatamente o contrário, segundo as palavras do pai da noiva.
– Pelo que vejo, todos estão torcendo para que minha menina se torne uma esposa dedicada, pois então, só me resta concordar, afinal, como disse meu amigo e conselheiro Terêncio, o dia que eu não estiver mais aqui para cuidar dela, ela terá os filhos e o marido para olhar pelo seu futuro.
Uma grande salva de palmas seguiu o término do pronunciamento do pai emocionado. Todos se levantaram e correram para abraçar Luizinha e Laércio. Este seria o primeiro casamento em terras Gregas, do grupo que com tanto sacrifício deixou toda uma vida para trás. A menina não cabia em si de feliz, não sabia se chorava ou sorria. A mãe Raquel e os cinco irmãos menores não entendiam direito o que estava prestes a acontecer. Laércio agradecia ao Grande Deus, de joelhos, orava e pedia que pudesse fazer jus à confiança que o futuro sogro lhe delegava. E do Alto, um casal emocionado, espalhava estrelinhas prateadas sobre a cabeça do filho honesto e trabalhador. Naquela mesma noite, o casamento foi marcado para dali a um mês. Jonas achou melhor não protelar muito, pois há anos, os dois esperavam por este dia. Naquela noite, todos foram dormir aliviados com o rumo dos acontecimentos. Desde que chegaram à Grécia, a união do grupo era algo que todos faziam questão absoluta de preservar. Eles sabiam que juntos eram muito mais fortes e poderiam alcançar objetivos que jamais conseguiriam sozinhos.
Os próximos quinze dias foram de muita correria, não só pelos preparativos do casamento, mas pela proximidade da colheita de algodão. Seria a primeira safra de muitas que viriam, Jonas estava especialmente feliz, sua família poderia usufruir de uma vida mais estabilizada e seus amigos receberiam os benefícios de tanto trabalho despendido nos últimos seis meses. Foi Alberto que levantou uma questão que a muito atormentava os irmãos. É claro que o fruto da plantação poderia ser consumido pelos próprios membros da comunidade, mas, e o excedente? À princípio, falou-se em levar para Vila Cantar para ser vendido, mas depois Jonas se mostrou contra, pois era uma Vila com pouquíssimos moradores, que sobrevivia à base da pesca e de pequenas hortas, eles não tinham condições de adquirir o que quer que seja. O pequeno ancoradouro que o Capitão Mirko aportou a embarcação era tão precário que nenhuma nau que transportasse viveres para outros países aportava. Não havia mais tempo à perder, eles precisavam encontrar uma saída, pois se isto não acontecesse, perderiam oitenta por cento da safra de algodão. Nesta noite de quinta feira, cinco dias após o noivado de Luizinha e Laércio, estavam todos novamente reunidos no centro do acampamento para deliberações importantíssimas. Jonas, abriu as discussões, dizendo:
– Amigos, estamos aqui novamente, para decidir o que fazer. Prosseguiu.
– Precisamos urgentemente de compradores para nossa safra, caso contrário teremos um prejuízo descomunal e voltaremos à estaca zero. Já protelamos o assunto mais do que poderíamos, agora, não há mais tempo a perder. Precisamos encontrar uma solução.
Alberto, o mais ponderado dos irmãos e que a muito estava alertando os irmãos sobre este problema, sem ser ouvido, tomou a palavra:
– Eu tenho uma sugestão, que já comuniquei aos meus irmãos, mas na época nenhum deles me deu ouvidos.
Atílio, o mais irascível dos cinco irmãos. Disse, em tom de desafio:
– Alberto, eu gostaria que você não dissesse o que está pensando, pois eu acho impossível de ser realizado.
Rafael, interferiu:
– Atílio, independente de qual seja a sugestão, não tem problema que ouçamos, o máximo que pode acontecer é ela não ser aceita.
Alberto prosseguiu impassível como se nada tivesse acontecido.
– Eu sugeri a meus irmãos, que nós todos carregássemos os fardos de algodão ao longo da costa, em sentido contrário a Vila Cantar, quem sabe existe nesta ilha algum porto maior onde saem embarcações de carga e haja alguma comunidade mais bem estabelecida que a Vila.
Todos ficaram admirados com a sugestão do irmão de Jonas mas ao mesmo tempo muitas perguntas foram proferidas, primeiro Terêncio tomou a palavra:
– Confesso que é uma sugestão bem arriscada mais ao mesmo tempo segura, porque se não encontrarmos nada, voltaremos para cá. E como iremos perder a maior parte da colheita, caso não existam compradores, então porque não tentar, é uma possibilidade diante de nenhuma.
– Mas porque nunca nenhum morador da Vila nos falou desta possibilidade? Ou mesmo o Capitão Mirko, se existisse outro porto, ele com certeza saberia e nos diria.
Alberto pensou um pouco e disse:
– Eu sei que é uma proposta muito difícil de aceitar, mas quem sabe todos tinham algum motivo para omitir este fato.
O que ninguém sabia, era que Alberto estava coberto de razão. Dr. Alecsander e Capitão Mirko não disseram porque não queriam que eles se aventurassem até lá, os dois tinham muito apreço pela Vila Cantar e queriam que os imigrantes ficassem nas proximidades para auxiliar no desenvolvimento da Vila. Os moradores desconheciam a existência deste local, a gerações todos os habitantes viviam da mesma maneira e tinham muito medo dos animais selvagens que existiam em diversos pontos da ilha, por isso não se afastavam da Vila, a não ser, para chegar até o mar e pescar. A única exceção era Hipólito, que apesar de ser nativo, já tinha vivido em Nápoles, trabalhando na casa de Dr. Alecsander, e ele próprio havia lhe dito que uma ocasião, ao tomar uma embarcação em direção a Vila Cantar, que uma tempestade havia obrigado o capitão a atracar em um grande porto que ficava do outro lado da ilha, mas pediu que ele não comentasse nada com ninguém, pois se alguém se aventurasse a ir por terra, correria sérios riscos de vida, então Hipólito guardou segredo, e com o tempo até se esqueceu que esta localidade existia realmente.
Jonas pediu que se houvessem outras sugestões, que fossem colocadas, mas como ninguém se manifestou, ele colocou em votação a proposta de Alberto, que foi aceita por unanimidade, ou melhor, Atílio votou contra. Como foi o único, decidiram que assim que os fardos de algodão estivessem prontos, os homens carregariam ao longo da costa, em busca de compradores. Mais uma semana se passou, até que tudo ficasse pronto para se iniciar a busca por compradores do fruto do trabalho da comunidade. Dezesseis homens foram escolhidos, entre eles Laércio, Rafael e Atílio. Este último, se ofereceu, para que caso não encontrassem nada e voltassem sem nenhum resultado animador, pudesse rechaçar a ideia sem cabimento do irmão, mas mesmo ele, torcia, para que a solução de tamanho problema fosse encontrada. Terêncio, desta vez, não iria, pois segundo a explicação de Rafael à Tânia, ele precisava ficar para dar andamento aos preparativos do casamento de Luizinha, afinal, foi graças a ele que a cerimônia seria realizada. Tânia ouviu a ponderação de Rafael a contragosto, pois ela desejava que seu marido se destacasse entre os líderes da comunidade, o cargo de conselheiro não era o suficiente para suas pretensões, mas desta vez, ela se comportou com bom senso. Calou-se, diante os argumentos de Rafael, que para ela, era o marido que gostaria de ter tido.
continuação…