Mykonos-7

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    Fez-se um silêncio mortal, ninguém sabia o que dizer. Como líder do grupo, Jonas sabia que não podia perder a calma, sugeriu que descansassem um pouco onde estavam, se alimentassem e voltassem a caminhar.
    Foi o que fizeram. As crianças estavam felizes por poderem correr livres, depois de dias empoleirados em cima de bancos desconfortáveis. Jonas filho, mostrando sua usual curiosidade, se aproximou das cabanas. Olhou dentro de uma delas e voltou correndo dizendo que vira um moinho de trigo. Neste momento, um senhor de aproximadamente cinquenta anos, saiu da mesma cabana e caminhou em direção do grupo. Jonas se levantou e se adiantou como um líder faria. O estranho falou uma língua inteligível, com certeza grego. Sem entender absolutamente nada, Jonas começou a acenar o dedo indicador direito comunicando que não falava aquela língua.
    O Senhor parou de falar e sorriu, dizendo no mais correto italiano.
    – Não precisa se preocupar, eu também falo italiano.
    Era visível o alivio no rosto de Jonas.
    – Fico feliz que possamos encontrar algum conterrâneo aqui. Disse Jonas.
    – Meu nome é Mario, sou romano, vivo a trinta anos na Grécia mais precisamente na Ilha de Creta. Qual o seu nome?
    – Me chamo Jonas Massina, sou de Verona.
    – Já sei, estão fugindo dos bárbaros. Eu ouvi dizer que eles estão massacrando a população.
    – Sim, é verdade. Chegamos ontem, depois de uma viagem muito difícil. Vim acompanhado de minha esposa, dos filhos pequenos e quatro irmãos e suas famílias, além de primos e amigos, somos ao todo cinquenta pessoas.
    Mario, um aventureiro, que sempre percorreu o mundo em busca de fazer bons negócios, estava em Mykonos porque tinha ouvido falar de muitos campos férteis que eram descritos por alguns nativos que se desgarraram da ilha enquanto pescavam em alto mar. Muitos, como Dr. Alecxander, creditavam estas histórias como crendices populares, mas Mario, não. A mais de dois anos planejava encontrar estas terras, havia comprado equipamentos e trazido para ilha, mas até agora, passados três meses de sua chegada, nada havia encontrado.
    Vendo a quantidade de pessoas e a situação que eles se encontravam. Mario foi direto ao assunto:
    – Estou em busca de terras férteis que eu sei existirem nesta ilha mais a três meses procuro e só encontrei pedras e mais pedras. Eu darei as direções que já procurei e vocês podem procurar em outras direções, como são muitos homens logo encontraremos. Assim podemos nos associar, eu forneço as sementes e o que tenho disponível em equipamentos e vocês trabalham, no final dividiremos os lucros.
    Jonas ouviu com atenção e disse que precisava conversar com os outros antes de dar qualquer resposta. Ao explicar ao grupo a sugestão de Mario, Josias foi o primeiro a se manifestar.
    – Mas porque não podemos procurar sozinhos. Nós tínhamos nossa terra e agora seremos empregados?
    Todos estavam tão confusos que ninguém se entendia; uns, querendo resolver logo a situação diziam que concordavam; outros, não, preferiam partir imediatamente e procurarem sozinhos.
    Foi Rubens, em um momento de lucidez, que sugeriu:
    – Eu e meus irmãos faremos o que Jonas decidir, os outros decidam o que acharem melhor.
    Rafael, o mais sensato do restante do grupo, disse:
    – Já que chegamos juntos até aqui, permaneceremos juntos até o final, Jonas qual a sua conclusão?
    Não esperando tanta responsabilidade sobre seus ombros, pois até agora, ele se considerava um líder informal do resto do grupo. Jonas pensou um momento e disse:
    – A proposta de Mario não é de toda ruim, nós não temos sementes, as nossas mãos são nosso único equipamento, mas não acho justo dividirmos meio a meio os lucros. Afinal, as terras ainda nem sabemos se existem ou não. Vou sugerir que ele fique com vinte por cento. O que vocês acham?
    Todos concordaram de imediato, ninguém fez objeções.
    Jonas apresentou a decisão a Mario, que de início se mostrou reticente, mas por fim concordou, afinal já tinha praticamente desistido, pensava em partir no dia seguinte com Dr. Alecsander e deixar os equipamentos para trás. Se eles realmente encontrassem as terras férteis, ele lucraria sem ao menos trabalhar, como era de seu feitio.
    Aquela noite, todos dormiram nas imediações da Vila Cantar e no dia seguinte puseram-se a caminhar nas direções contrárias que Mario já havia explorado; dividiram-se em quatro grupos com homens apenas, as mulheres e as crianças pequenas ficaram. Jonas filho insistiu tanto que acabou indo no grupo de seu pai. Combinaram voltar no máximo após dois dias. Instruídos por Mario, levaram sementes para marcarem o caminho de volta.
    Maila, Ana, Otélia, Nair, esposa de Josias; Beatriz, esposa de Alberto e todas as outras mulheres ficaram muito apreensivas, pois não sabiam o que encontrariam.
    Beatriz comentou que tinha lido em um livro que existiam muitos animais selvagens em florestas na Grécia. Maila retrucou, dizendo que com certeza não se referia a esta ilha, pois é impossível que haja florestas no meio de tanta pedra. Tentaram passar o tempo, ora cuidando das crianças, ora conversando e muitas vezes orando, cada uma para o seu Deus.
    Ana, muitas vezes relatava preceitos que acreditava; como a força dos bons pensamentos, a reencarnação, a vida após a morte e principalmente a bondade e a onipresença do Grande Deus. As outras ouviam caladas, mais algo estava pouco a pouco se agregando ao espírito de cada uma.
    Após dois dias, o primeiro grupo voltou, dizendo que nada encontraram, além de pedras e mais pedras. Depois chegou o segundo grupo e no entardecer do terceiro dia; Josias, Rafael e mais três homens voltaram exaustos. Antônio, amigo de infância dos cinco irmãos havia se acidentado caindo em um vão entre duas enormes pedras e parecia ter quebrado a perna em dois lugares. Foi carregado durante todo o percurso de volta pelos companheiros.
    Assim que chegaram disseram que naquela direção não havia absolutamente nada parecido com terras de cultivo. Antônio foi socorrido por Dr. Alecsander que ainda não havia partido, pois a paciente moribunda resistia bravamente. Sua perna foi imobilizada com o auxílio de duas pranchas de madeira e era necessário aguardar até que as fraturas se solidificassem. Isto impediria que eles partissem para outro local, pois o velho médico recomendou que não se movimentasse em hipótese alguma, sob risco da perna ficar torta para sempre.
    Josias, diante deste quadro desanimador, cogitou juntar todos e pedir que começassem a buscar folhas de bananeira e tocos de madeira para construírem abrigos rústicos para que pudessem se proteger. No grupo havia pelo menos dez crianças com menos de cinco anos e elas necessitavam de mais proteção. Enquanto pensava nisso, avistou ao longe o grupo de Jonas que também retornava. Pela feição de todos percebeu que traziam boas notícias. Jonas vinha na frente, não se contendo de tanta felicidade. Mario, alertado que o último grupo havia chegado, saiu da cabana onde aguardava ansioso, pois tinha se recusado a participar da busca alegando que sofria de dores nas pernas.

continuação…

 

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