Mykonos-6

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CAPITULO 2

VIDA NOVA SEM ABRIGO

    A noite chegou rápido, escura, sem ao menos a luz do luar, todos se juntaram ao redor dos montes de sacos que continha a pouca bagagem. Ninguém ousava reclamar de nada. O medo do dia seguinte era visível em todos os semblantes iluminados pela luz tênue de duas lamparinas a óleo.  Aos poucos, um a um, foram se deitando sobre a pedra ainda quente devido a luz solar.
    Na manhã seguinte, o sol apareceu radiante, antes das seis horas. Só agora puderam apreciar a bela paisagem, composta não só de rochas mais também de muitas árvores, algumas frutíferas. O mar batia incessantemente nos paredões ao longo da orla, o único pedaço de areia se encontrava onde a embarcação aportou. Agora já não mais se via as velas tremulando ao vento, capitão Mirko havia partido rapidamente com medo de que naufragasse, disse que iria para outra ilha tentar auxilio de algum estaleiro. Mas antes, recomendou que o grupo se colocasse a caminho de uma vila próxima, pois lá poderiam decidir que destino tomar. Foi o que fizeram. antes das sete horas levantaram acampamento e se puseram a caminhar.
    Depois de aproximadamente três horas, saltando valas, subindo em rochas íngremes, chegaram a uma pequena vila denominada Cantar, lá vislumbraram algumas cabanas construídas com troncos de árvores ladeadas por alguns bancos onde homens e mulheres pareciam passar o tempo, pois nada faziam. Nem ao menos conversavam. Jonas tomou à frente do restante da família e se aproximou. Cumprimentou-os em italiano, mas ninguém respondeu. Apenas uma das mulheres se levantou e entrou em uma das cabanas, depois de alguns minutos, voltou acompanhada de um senhor já idoso; com barbas longas, vestindo uma espécie de túnica surrada, tão velha que não dava para distinguir sua cor original. Ele parou diante de Jonas, dizendo a seguir em italiano com sotaque Napolitano.
    – Que ventos o trazem a este fim de mundo!
    Jonas ficou muito feliz de ouvir alguém falando sua língua, pois ele sempre se preocupou em como iriam se comunicar. Todos diziam que Grego era tão inteligível como o Chinês. Respondeu prontamente:
    – Senhor, eu, minha família e meus amigos fugimos de nossa terra, que é o mesmo país que o seu. Os bárbaros estão dizimando as plantações e matando todos que encontram pela frente. Precisamos de um local para nos instalarmos.
    O velho médico pensou um pouco e disse:
    – Sejam bem vindos! Mas preciso esclarecer que não sou italiano, sou grego, eu morei muitos anos em Nápoles por conta que meu pai era um mercador grego que se fixou em muitas partes do mundo e eu o acompanhei em algumas destas peregrinações, por isso falo italiano e chinês, além do grego e francês.
    Jonas o ouvia atento enquanto o grego prosseguiu:
    – Quanto a se fixarem aqui na ilha, aconselho que pensem um pouco, pois além deste pequeno agrupamento de casas, nada mais existe. Eu sou médico, formado em Atenas, moro em uma ilha próxima, vim até aqui para auxiliar uma paciente que mora nesta casa e que padece de um mal do estomago que a faz vomitar sangue continuamente. Sua família aguarda apenas o momento final – olhando para as pessoas sentadas atrás dele – já disse a todos que nada mais há a fazer!
    Jonas ficou constrangido por chegar numa uma hora tão imprópria, mas mesmo assim insistiu:
    – Precisamos de um local para nos fixar, somos trabalhadores. Viemos com nossas famílias, tenho filhos pequenos. Apontou para o grupo que neste momento aguardava a uns cinquenta metros de distância.
    O velho médico, com ar paternal, explicou pacientemente.
    – A ilha é composta apenas de rochas, pouquíssima terra para plantar, o senhor escolheu o lugar errado para fixar sua família.
    Neste momento, Jonas pensou que jamais tinha imaginado que pudesse se deparar com um local tão hostil, pois sempre viveu em um lugar onde as terras se perdiam ao longo do horizonte.
    Dr. Alecsander, percebendo seu desapontamento, prosseguiu:
    – Eu já ouvi dizer que a ilha é um local que guarda muitas surpresas, alguns antigos moradores diziam que ainda havia muito a ser explorado, pois existem locais que nunca ninguém chegou.
    – Quem sabe vocês podem encontrar algum campo inexplorado onde possam plantar, mas aconselho que não se distanciem da costa, pois caso não consigam, o mar Grego é muito rico em peixes e frutos do mar.
    Jonas ouvia perplexo, e agora, o que dizer para todos. O médico foi bem claro:
    – Nada havia na ilha além de rochas para todo lado e meia dúzia de casas. Era desesperador.
    O médico despediu-se dizendo que ele precisava ficar ao lado da paciente. Jonas apertou suas mãos e agradeceu a sua atenção. Após alguns segundos, Dr. Alecsander, que já se encaminhava para a cabana, voltou-se e disse:
    – Senhor, diga a todos os seus que jamais se perderão enquanto permanecerem unidos. E entrou na cabana!
    Jonas ouviu esta última frase como se fosse um bálsamo, era um sinal para prosseguirem, com certeza, seu pai tinha vindo com eles. Caminhou lentamente em direção ao grupo que o aguardava com muita ansiedade. Assim que se aproximou o suficiente, disse:
    – Amigos, este Senhor é um médico que está aqui apenas para cuidar de uma senhora enferma que mora naquela cabana, apontou para a casa onde o médico entrou e continuou:
    – Ele me disse que a ilha é inexplorada, não sabe exatamente se podemos ou não encontrar terras produtivas. Me aconselhou que procurássemos, caminhando sem perder o mar de vista.
    Neste momento Rubens intercedeu, dizendo:
    – Mas você conversou tanto com ele. Ele só disse isso?
    – Não, desconversou Jonas, completou:
    – Ele disse que jamais nos perderíamos se permanecêssemos unidos.
    – Só isso? Insistiu Rubens.
    – Ele não indicou nenhum local que possamos nos fixar? Completou Mirla.
    – Não, minha querida, ele não conhece a ilha pois não mora aqui.
    – Vamos procurar outra pessoa para nos ajudar. Continuou Mirla.
    – Os únicos moradores desta ilha são estas pessoas sentadas naqueles bancos e nenhuma fala nossa língua. Disparou Jonas em um só fôlego.

continuação…

 

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