Constantinopla-19

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    Suzana preparou o jantar e me disse que no dia seguinte começaria a me ensinar a ler e escrever com correção, pois assim poderia ler os livros de Tio Elias e fazer anotações daquilo que achasse importante.  Fiquei muito feliz com sua disposição, dei-lhe um beijo de agradecimento e disse:

    – Querida, você não imagina o quanto lhe sou grato, tenho necessidade de aprender mais, pois sei que com isso poderei auxiliar muitas pessoas que erram por ignorância.
    Ela me respondeu:
    – Conte comigo sempre, te ensinarei tudo que sei, leremos juntos os livros que Tio Elias nos deu.
    Dormimos felizes e cônscios que estes livros representavam uma nova etapa em nossas vidas.  No dia seguinte Catarina e Suzana me aguardaram chegar do trabalho em companhia de Antron, que nesta época já tinha quase quatorze anos e havia se tornado um grande pescador, era mais truculento e forte que eu na sua idade.  Mamãe, após o acontecido com meus tios, tentou de todas as maneiras fazer com que desistisse da vida de pescador, mas vendo que era inútil, desistiu.  O fato de ficarmos muito tempo juntos nos aproximou ainda mais, meu amor por ele tornou-se tão forte e amadurecido que às vezes me pegava tratando-o como se fosse meu filho.  Antron deixou no passado a insegurança e teimosia das crianças e tanto fisicamente como mentalmente já era um homem formado.
    Quando chegamos encontramos a mesa posta, o leite de cabra fumegava acompanhado de nam, coalhada e geléia de amora, fomos recebidos com sorrisos e percebi que algo novo pairava no ar naquela casa simples, mas que nos trazia tanta tranquilidade.  Eu e Antron nos refrescamos, sentamos na mesa ao lado de Catarina e Suzana e nos deliciamos com aquela saborosa refeição.  Conversamos alegremente enquanto comíamos, Antron nos disse:
    – Irmão, como você tem sorte, possui uma linda esposa e também uma ama que o trata como se fosse sua mãe.
   Catarina, fazendo-se de zangada retrucou:
    – Antron, você é o filho que me dá mais trabalho, pois se sou mãe de Aimanon, também sou sua mãe.
    Riamos, nos divertindo com a brincadeira que no fundo me pareceu não ser tão irreal.  Suzana olhava para nós três aparentemente alheia, mas de repente, disse:
    – Vocês podem pensar que estou ficando insana, mas por um momento vi esta mesa cheia de crianças e naquele canto.
    Apontou para um lado da mesa que estava vazio.
    – Havia uma menininha de aproximadamente seis anos, de olhos azuis e cabelos cacheados que dizia:
    – Mamãe quero nam com geléia.
    Todos nos calamos por alguns momentos, Catarina fitava Suzana como que para ela não tivesse causado nenhuma surpresa aquelas palavras, foi Antron que primeiro se manifestou dizendo:
    – Cunhada, acho que nossa conversa estava tão chata que você cochilou e sonhou.
    Olhando para Catarina completou:
    – Esta história de você ser nossa mãe fez com que Suzana sonhasse acordada.
    Assim a refeição prosseguiu, para terminar Suzana serviu bolo de milho, que segundo ela tinha sido vovó Celina que a ensinou a fazer.  Após cuidarmos de arrumar a mesa pedi para meus irmãos e Suzana que voltassem a ocupar seus antigos lugares.
    Comecei dizendo:
    – Hoje preciso contar a vocês o que vem ocorrendo já a algum tempo em minha vida.
    Iniciei pela tarde, onde sentado à beira do Rio Nilo, Menéas me disse que papai partiria porque já havia cumprido sua missão e eu seria responsável por alimentar a família, mas sempre auxiliado pelo Grande Deus.  Contei-lhes sobre a predição dos doze filhos antes de me casar com Suzana.  Enfim, tudo que se referia à mediunidade e os acontecimentos que envolvem a vida de um médium.  Me referi ao que Suzana havia dito a poucos minutos e olhando para Antron falei:
    – Mano, você pode ter certeza que Suzana viu mesmo a cena que relatou, daqui a alguns anos, numa tarde como esta, sentada naquele lugar.
    Apontei a cadeira vazia.
    – Uma garotinha linda de cinco anos e meio, olhos azuis como o céu, cabelos cacheados, olhará para Suzana e dirá: – Mamãe, quero nam com geléia.
    – Isto é antecipar o futuro e uma das capacidades de um médium, presenteadas pelo Grande Deus.
    Suzana aos prantos replicou:
    – Então teremos mesmo doze filhos?
    – Sim querida, tão certo como a predição que Tio Elias e Tia Adelane receberam antes do terrível acidente.
    Antron parecia hipnotizado, mas Catarina serena, falou:
    – Aimanon, eu também sabia que eles morreriam e também sei que Suzana e você terão doze filhos, pois uma voz me diz todos os dias o que devo ensinar à Suzana, porque quando ela já souber cozinhar, costurar e cuidar de uma casa, as crianças virão.
    Suzana olhou para ela e disse:
    – Você nunca me falou sobre tudo isso.
    Catarina completou:
    – A voz me pede sempre para não dizer a ninguém o que ela me conta porque não iriam acreditar, mas agora que Aimanon nos relatou tudo isto, ela acaba de me dizer que podia falar a respeito, mas pediu que guardassem segredo absoluto, pois muito mais nós descobriremos e se mais alguém souber seremos impedidos de saber e nossa missão não se cumprirá.
    Antron finalmente se manifestou:
    – Deuses, quanta crendice absurda! Vou embora!
    Eu me assustei e falei:
    – Desculpe Antron, esqueça o que foi dito aqui, nunca mais tocaremos neste assunto, mas prometa que nunca dirá a ninguém.  Ele respondeu rispidamente:
    – Prometo.
    E se foi, sem esperar por Catarina e sem se despedir.
    Passou-se uma semana deste encontro, em uma tarde escutamos bater à porta, eram Elinho e Osias carregando os livros dispostos em caixas colocadas sobre uma esteira resistente feita de folhas de palmeira e bambu.  Pedi que entrassem e que os colocassem sobre a mesa.  Se despediram sem aceitar água nem chá, e se foram levando apenas a esteira vazia.
    Eu e Suzana observamos aquela grande quantidade de livros e pergaminhos enrolados, ela olhou para mim e disse:
    – Aimanon, como vamos guardar tudo isso?  Nosso quarto já está tomado por nossos objetos.
    Respondi com delicadeza:
    – Meu amor, não se preocupe, eu vou te fazer uma surpresa, aguarde até amanhã.
    Ela sorriu e disse:
    – Estou curiosa, mas vou esperar sua surpresa.

continuação…

 

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