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A partir daí, a festa realmente teve inicio, me dirigi a Suzana e pedi que me acompanhasse até o pomar e lá sentados sob a frondosa macieira, conversamos pela primeira vez como prometidos. Segurei suas mãos e lhe disse que também a amava e que eu cuidaria dela e de nossos filhos com todas as minhas forças. Ela chorou muito, dizendo que temia que eu não a aceitasse. Desde o nosso último encontro à mais de um ano, por ocasião da morte de meu pai, ela não conseguia parar de pensar em mim, muitas vezes pensou em ir ao meu encontro, mas se conteve.
Quando as primeiras noticias chegaram através de Tia Mirna e Tia Ágata que eu havia me tornado um pescador e cuidava de todos com muita hombridade ela soube que era eu, o homem que desejava para ser seu esposo. Contei-lhe da minha rotina como pescador e que à partir de agora iria começar a construir nossa casa, onde cuidaríamos de nosso amor e criaríamos nossos filhos. Choramos juntos pela primeira vez e selamos um pacto de amor e união que jamais se desfaria mesmo quando fossemos morar em outro lugar junto aos Deuses.
Retornamos à casa, meus primos e tios não cansavam de nos cumprimentar e já perguntavam quando seriam as bodas. Eu olhava para Suzana, entorpecido, pois os últimos acontecimentos me deixaram sem capacidade de raciocinar. Foi ela quem decidiu.
– Assim que findar o verão nos casaremos!
Faltavam dois meses, era um tempo curto, mas suficiente para que tudo pudesse ser preparado.
A festa prosseguiu animada, Tio Nuno e Tio Percilio contaram todos os detalhes das pescarias em alto mar. Os imensos peixes eram conservados em tonéis de azeite e vendidos em cidades ao longo da península arábica chegando até a Grécia. Minha imaginação voava, acompanhando o desenrolar da conversa. Cada história era para mim fonte de muita curiosidade. Atenas era o local onde eles mais demoravam e retornavam, pois era lá que palpitava o coração do mundo antigo e se concentrava a riqueza da época. Tio Elias era o mais inteligente e mais carinhoso dos irmãos de minha mãe. Após a refeição do meio dia ele me chamou até à pequena sala e me disse :
– Aimanon, à partir de hoje sua vida não será mais a mesma, terá novas responsabilidades, mas jamais se esqueça que a essência de nossa família pulsa dentro de suas veias e nunca deixe a sua parte espiritual dormir e te afastar do Grande Deus e de seus irmãos.
Ao ouvir aquilo conclui que meu tio acreditava na existência de um só Sábio que comandava tudo e todos os outros Deuses, respondi :
– Tio o que é a parte espiritual?
– É como se fosse um outro Aimanon que mora dentro deste que está diante de mim, enxerga e pensa através dele, mas consegue sobreviver sem se alimentar e dormir.
– É ele que parte para junto do Grande Deus quando se incinera o corpo morto como aconteceu com meu pai?
– É exatamente isto, mas ele só terá forças para continuar pensando e enxergando como fazia quando morava dentro de você, se enquanto estiver vivo, trabalhando, crescendo, formando uma família, se preocupar em ser um homem bom, que ajuda todos que precisam e principalmente jamais se sentir só, pois o Grande Deus criou a família para que todos pudessem ter a quem amar e auxiliar ou ser auxiliado caso seja necessário. Veja o que aconteceu com sua avó Celina, sua mãe a abandonou e partiu, porque seu espírito não sabia tudo isto que estou lhe dizendo e quando seu corpo sucumbir ele não saberá como fazer a viagem para encontrar o caminho da Casa do Grande Deus. Mas sua avó sabe, pois cuidou sempre de sua família com amor e dedicação.
Tudo que Tio Elias me disse, pareceu algo muito correto e que explicava muitas dúvidas que sempre me atormentaram, mas queria saber mais e prossegui:
– Tio, este outro Aimanon que mora dentro de mim, já sabe que para encontrar o caminho da Casa do Grande Deus precisa cuidar de sua família com amor?
– Sim, meu sobrinho. O Grande Sábio já disse para ele antes de você nascer e isto acontece com todos os homens que vivem nesta Terra. Aqueles que não o fazem é porque preferem cuidar apenas deste corpo que um dia morre e apodrece se não for cremado.
Meu tio era casado com Tia Adele, tinha apenas três filhos pois sua esposa adoeceu quando nasceu Elinho, seu filho mais novo que hoje tem minha idade, dezesseis anos. Tia Adele teve uma febre que paralisou suas pernas e hoje já não anda mais. Tio Elias sofreu muito com o que aconteceu com minha tia, desde esta época estuda muito e quando volta das viagens sempre trás livros escritos por filósofos que moram em Atenas. Hoje, ele sempre conversa com meus primos sobre tudo que aprende com seus estudos. Me sentia agradecido por ele ter me escolhido neste dia tão especial.
Perdido em meus pensamentos não vi meu tio se levantar e abrir uma grande caixa que estava em cima da mesa, de dentro dela tirou um cristal de quartzo rosa e me deu, dizendo que ele tinha o poder de fazer com que o espírito que morava dentro de mim se acalmasse quando quisesse saber qual era o caminho da Casa do Grande Deus. Eu deveria segurá-lo e perguntar o que fazer.
O Grande Deus sempre ouve e auxilia, ele também tem um cristal que está ligado a esta pequena pedra que transmitirá a ele minhas dúvidas e eu terei as respostas que precisar. Olhei para aquele pequeno objeto, o vi reluzir e quando o apanhei minha mão vibrou como que atingida por uma infinidade de borboletas anãs.
Neste momento, minha mãe entrou na sala para dizer que já era hora de retornarmos para casa. Guardei rapidamente a pedra no bornal que carregava junto ao corpo, agradeci a Tio Elias e me dirigi à sala principal. Todos se despediam, pois naquela época, os convidados partiam ao mesmo tempo.
Ao se despedir de mim Tio Nuno me disse :
– Eu, Tio Elias e Tio Percilio ficaremos em Constantinopla até o fim do verão e durante este período, auxiliaremos na construção de sua nova casa, só partiremos após o casamento.
Respondi :
– Amanhã escolherei o local e perguntarei a Suzana se é de seu gosto, assim antes do próximo domingo poderemos começar, ficarei alguns dias sem pescar para auxiliá-los, agradeço muito seu carinho e farei tudo para ser merecedor, cuidando com todas as minhas energias de sua filha e de seus netos.
Meu tio me olhou e disse:
– Filho, tenho três netos e logo chegará mais um, mas aqueles frutos do ventre de minha menina Suzana serão para mim muito especiais pois serão gerados pelo fruto do meu amor por Adelaide.
Nos abraçamos demoradamente, a seguir, me despedi de Tia Adelaide, de Tio Naim e Tio Elias. Por ultimo, levei Suzana a um local mais tranqüilo, segurei suas mãos e falei:
– Querida, amanhã após a pescaria passarei aqui para escolhermos o local de nossa nova casa, me aguarde. Ela me disse:
– Obrigada Aimanon, pensei que você escolheria sozinho, mas terei muito gosto em decidir com você este local, pois será lá que viverei o resto dos meus dias.
Eu a abracei e beijei sua face rosada. Mamãe, vovó e meus irmãos já se colocavam a caminho, mas eu não conseguia me afastar de Suzana, e foi ela quem determinou:
– Vá, amanhã nos veremos novamente e conversaremos mais.