Mykonos-22

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    – Por que será que esta criança que Mirla espera me desperta tanto carinho? Por que, mesmo durante a gravidez de Joninho eu já o rejeitava? Pensando nisso, adormeceu, depois de alguns minutos começou a sonhar – se  viu transportado para um lindo jardim com flores multicoloridas e pássaros de inúmeras espécies, no centro do jardim havia uma fonte de onde jorrava água cristalina. Sentou-se em um banco em frente a fonte e ficou ouvindo o barulho da água acompanhando o trinar dos passarinhos. Depois de alguns minutos, percebeu que um Senhor de cabelos grisalhos, vestido com um elegante terno branco se aproximou. Sentou-se ao seu lado dizendo:
    – Filho,  precisamos conversar um pouco. Vou te dar muitas explicações do porque  de tantos sentimentos conflitantes, e depois disso, gostaria que você reavaliasse sua relação com seu filho mais velho e com a esposa que já te deu dois filhos e ainda dará muitos outros.
    Jonas ouvia atento a explanação do desconhecido – em alguns momentos teve o ímpeto de fazer algumas perguntas, mas se conteve, ele sentia que devia apenas ouvir, pois todas as respostas estariam contidas nestas explicações. O simpático  Senhor, prosseguiu:
    – Acredito que não seja novo para você que todos os amigos e parentes que estão convivendo com você atualmente, já partilharam em outras ocasiões muitos momentos de amor e desprezo. Hoje preciso me referir especificamente ao seu filho Joninho e a sua esposa Maila. Os dois fizeram parte de sua família em uma vida onde Joninho se apaixonou por sua única filha e durante muitos anos a assediou e perseguiu até o dia que ele morreu vítima de suas próprias atitudes, pouco dignas. Maila, naquela vida, também era uma mãe protetora e cega para os deslizes do filho.
    – Estou te revelando tudo isso para que você reavalie o seu comportamento com relação ao seu filho. No futuro, outros personagens se ligarão à família e você terá muitos aborrecimentos se prosseguir a menosprezar o filho que você mesmo concordou em receber.
    Dito isto, Jonas acordou apavorado, suando a bicas e totalmente confuso com as palavras do Senhor de cabelos grisalhos que tinha sido Iane, seu pai em Constantinopla, agora era o mentor de Nuno, o pai de Suzana. Passados alguns momentos, Jonas se recompôs, mais já não se lembrava exatamente o que havia ouvido, recordava-se apenas que deveria tratar melhor Joninho. Pensou em um momento de lucidez:
    – Ele se referiu a Maila também, acho que preciso ser mais carinhoso com ela também.
    Aquele dia terminou com todos indo dormir ansiosos para que o novo dia amanhecesse logo, pois além de ser o casamento de Luizinha e Laércio, após a cerimônia haveria uma reunião para que a decisão de mudarem para as cavernas da grande pedra fosse tomada.
    Após a ligeira refeição matinal, todas as mulheres começaram os preparativos, arrumando a cabana onde os noivos passariam a lua de mel, varrendo o centro do acampamento onde uma pequena mesa seria montada para receber o singelo Altar onde Luisinha e Laércio receberiam as bênçãos nupciais através do padrinho daquela união: Terêncio. O pai da noiva não via a hora que tudo se concretizasse, pois apesar da teimosia inicial, Jeremias sabia que esta era a vida que a filha escolheu, e por algum motivo, ele sabia que ela tinha feito a escolha correta.
    O noivo Laércio foi levado para a cabana de Atílio, onde os amigos Fernando  e Minelo já o esperavam. Durante uma hora, os quatro amigos se confraternizaram, cantando canções veronenses e bebendo uma espécie de vinho feito de frutas silvestres. E ao final da comemoração, todos desejaram uma nova vida de muita felicidade ao amigo de muitos infortúnios mas também companheiro em momentos de alegria, como o dia de hoje.
    Luizinha também se preparava, lavando os longos cabelos. Auxiliada por Rosana, penteou-os, adornando com pequeninas flores do campo. O vestido foi confeccionado por sua mãe com um tecido trazido da Itália. Raquel sempre desejou que sua filha se casasse com Laércio e pressentindo que isto poderia acontecer na terra que os acolheria, escolheu um lindo corte de pano e trouxe escondido do marido entre as roupas da família. Depois de pronta, a jovem ficou linda, algumas mulheres trouxeram um pequeno presente para a noiva usar em sua nova casa. Maila confeccionou um tapete de sisal, Ana fez uma delicada cesta enfeitada com flores desidratadas, Tereza deu um pilão que Afonso havia esculpido em uma pedra cilíndrica, Tânia disse que desejava muitas felicidades à noiva mais que não tinha nenhum presente para oferecer, pois não possuía habilidade para fazer nada. E assim a hora da cerimônia chegou. As crianças se colocaram ao redor do altar, deixando um corredor para que os noivos pudessem passar. Todos ficaram muito emocionados pois era o primeiro casamento realizado fora do país natal e os noivos eram muito queridos de toda a comunidade.
    Laércio se postou ao lado do Altar, tendo ao seu lado esquerdo, os futuros sogros Jeremias e Raquel. Os irmãos Massina, com suas respectivas esposas, inclusive Atílio, ao lado de Rosana e Rubens, acompanhado da cunhada Beatriz, fizeram às vezes dos padrinhos, se colocando do lado oposto onde estava o noivo. Quando tudo estava pronto, Fernando começou a tocar uma flauta doce que havia trazido da Itália e a seguir Luizinha saiu da cabana que provisoriamente ocuparia com seu futuro marido. Todos admiraram a beleza suave da noiva, que sorria com candura para todos os convidados, em especial para os pais. Jeremias se assustou com o lindo vestido que ela vestia, muitas vezes pensou que nem isso poderia dar a ela, pois era praticamente impossível conseguir algum corte de tecido naquele local tão distante. Nem de longe imaginou, que fora Raquel que com seu grande amor e cuidado pela filha, havia resolvido aquele detalhe tão importante. Quando a noiva se aproximou o suficiente, Jeremias estendeu sua mão direita e a conduziu até o noivo, que neste momento já estava com os olhos marejados de lágrimas. Todas as crianças, em especial os irmãos da noiva, começaram a cantar uma suave canção de amor que ensaiaram durante dias escondido para que ninguém soubesse. A ideia foi de Ana, mas fora Rosana que ensaiou as crianças, pois ela adorava cantar e como Joninho havia lhe dito que não gostava de sua voz, ela resolveu abrilhantar o casamento da amiga com as vozes das crianças. Quando a canção terminou, a cerimônia teve início, Terêncio leu um pequeno texto, escrito de próprio punho, onde ele dizia que o casamento era uma união de almas e que os filhos que viriam coroariam esta união com a continuidade da família. O pai da noiva também fez um pequeno pronunciamento, onde pedia desculpas pela oposição inicial e dizia que Laércio poderia se considerar seu filho também, finalizou com um beijo na face da filha emocionada.
    Terminada a cerimônia, todos começaram a se agitar, pois sabiam que o momento decisivo se aproximava. Foi servido alguns comes e bebes, em especial frutos e sementes. Após uma hora aproximadamente, Jonas pediu que todos silenciassem pois queria tomar a palavra:
    – Amigos, em meu nome e no de minha família, gostaria de parabenizar os noivos e a família de Luizinha. Como havíamos combinado, agora teremos uma  grande decisão a tomar, a maior, desde que decidimos partir de Verona e enfrentar o mar aberto!
    – Vocês todos já visitaram o local que eu, Rubens, Josias e Rafael encontramos, e com certeza, já tem uma opinião formada, portanto vamos iniciar a votação. Quem for contra a mudança que levante o braço.
    O silencio foi geral, ninguém se movia, apenas um braço se ergueu dentre as cinquenta pessoas: Joninho.
    Jonas de inicio achou engraçado a postura do menino e disse:
    – Você não vota menino, você vai aonde seu pai e sua mãe forem.
   Maila, como de costume intercedeu:
    – Jonas, apesar de ser muito criança, Joninho tem sim o direito a votar, e se ele não quer ir, eu também não quero.
    O mal estar foi geral, ninguém imaginava que alguém pudesse ser contra a mudança para um local tão mais confortável e protegido que este que eles foram obrigados a aceitar.
    Jonas pensou um pouco, já decidido a não tratar Maila e Joninho com tanta autoridade, disse calmamente:
    – Agora levante o braço quem for a favor da mudança?
    Todos levantaram os braços excetuando-se Maila e Joninho.

continuação…

 

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