Mykonos-21

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    Todos olharam em direção aonde ela apontava, parando para admirar a imponência daquela majestosa benção da natureza. Rubens pediu que descansassem um pouco, afinal tinha sido mais de duas horas de cansativa caminhada. Ninguém ousava dizer o quer que seja. Sentaram-se e ficaram observando o local que futuramente abrigaria a todos os corajosos Veronenses. Após uns dez minutos, Tânia perguntou:
    – Rubens, será que se todos concordarem em vir para cá, eu poderei ter uma caverna só para mim?
    Ele levou um susto com a pergunta inesperada, ainda mais diante de todos, inclusive de seu marido. Respondeu vagarosamente:
    – Se todos concordarem em se mudar, todas as cavernas já tem o seu destino. Eu mesmo fiz a contagem e o resultado foi exato. Cada casal com filhos, ou sem, terão uma caverna para sua família, inclusive Luizinha e Laércio. Os três rapazes solteiros terão uma para cada um e a única moça que veio conosco que não tem familiares aqui – Rosana – morará com Ana e Rafael, isto já foi decidido em concordância com o casal.
    Todos ficaram surpresos com a revelação de Rubens, pois eles sabiam que Rosana era uma moça desequilibrada e dada a ter alucinações com os pais que partiram durante a invasão dos bárbaros. Já estava com dezoito anos completos e não mostrava nenhum interesse em se casar, apesar de Minelo se dizer um pretendente. Tânia ficou decepcionada, pois pretendia anunciar sua separação de Terêncio assim que chegassem. Mas sendo assim, onde moraria? Bem que gostaria de trocar de lugar com Rosana. Terêncio ouviu o pedido da esposa sem demonstrar nenhuma surpresa, ele próprio, moraria de bom grado sozinho, se fosse possível.
    Após o rápido descanso, todos começaram a se embrenhar mata adentro, após quinze minutos ficaram diante da Grande Pedra – a grata surpresa foi geral, Otélia teve a impressão de ver sua filha Eza, – o apelido dado por Mirla – correndo naquela areia que mais parecia farinha de trigo de tão branca. Cada um teve uma sensação diferente, mas todos, sentiram no âmago de seus corações, que aquele era o local que o Grande Deus havia reservado para viverem por muitos e muitos anos. Terminada a exploração, o grupo voltou absolutamente satisfeito com o que viram, mas como combinado, nenhuma palavra foi dita àqueles que permaneceram no acampamento.
    O segundo grupo partiu na manhã do segundo dia, e assim por diante, até que no quinto dia faltavam apenas as crianças maiores, entre eles, Albertinho seu irmão Tales e Joninho. Maila e Jonas acompanharam as crianças. Colocar Joninho neste grupo foi proposital, Jonas gostava de deixar o filho na expectativa, seja em que situação fosse. Desde o dia que ele contou aquela mentira deslavada para a mãe, Jonas só fazia espezinhá-lo. Muitas vezes se pegava pensando porque agia daquela maneira, afinal ele era seu filho. Nenhuma explicação lhe ocorria, a não ser o gênio arguto e autoritário do menino. Saber que ele foi seu sobrinho em uma vida passada e que perseguiu sua única filha e seu genro enquanto estava encarnado e mesmo depois, talvez pudesse esclarecer muitas perguntas sem respostas.
    As crianças ficaram encantadas com o local, comentavam entre elas que não viam a hora de se mudar para lá. Joninho foi o único que se manteve emburrado durante todo o trajeto e mesmo durante a visita as cavernas. Ele achava que ali ficariam todos muito próximos uns dos outros e nada passaria despercebido aos olhos perspicazes de seu pai. No acampamento ele tinha toda liberdade de ir e vir, conversava com todos sem maiores rodeios. É bem verdade que estariam mais bem instalados, mas para ele isso não fazia muita diferença, já se acostumara a dormir no relento, como se isto fosse absolutamente normal. No caminho de volta ameaçou protestar, mas se conteve, ao observar a feição fechada e de poucos amigos de Jonas. Apenas Albertinho e Tales tiveram o privilégio de conversar com seu pai. Quando os primos perguntaram se eles e sua mãe ficariam em uma caverna só deles. Jonas respondeu gentilmente:
    – Se a decisão geral for de mudarmos para cá, é claro que vocês três terão um cantinho só de vocês.
    Maila ficava enraivecida toda vez que o marido demonstrava carinho pelos sobrinhos – carinho este, negado terminantemente ao seu filho. Apesar da gravidez complicada, a esposa de Jonas caminhava como todos os outros, mas durante o percurso parou algumas vezes para vomitar, pois desta vez, o enjoo era persistente. Jonas não se preocupou muito, pois tinha sido ela que insistiu em vir, portanto, que aguentasse as consequências – pensava ele.
    No meio do dia chegaram finalmente ao acampamento, Jonas foi direto para plantação levando Jonas filho e todas as outras crianças que tinham ido conhecer o novo lar. Maila foi cuidar do almoço de Mirla e descansar um pouco, pois se sentia muito enfraquecida. Ao adentrar em sua cabana, encontrou Ana e Otélia em companhia de Mirla, que demonstrava sinais de estar com uma gripe muito forte e parecia febril. Ana pediu que ela não se alarmasse mas que iria ter com Rafael para que este preparasse um chá bem forte para a menina. Assim que se aproximou de seu alojamento viu Tânia saindo sorrateira. Ana ficou enfurecida, correu para dentro da cabana. Mas lá dentro, encontrou Rafael calmamente sentado na mesa rústica, misturando algumas ervas para fazer uma infusão. Ela perguntou:
    – Rafael, o que esta mulher estava fazendo aqui dentro?
    Ele olhou para esposa e disse:
    – Que mulher?
    – É claro que é Tânia, eu a vi saindo daqui. Rafael, parecendo confuso, disse:
    – Eu não a vi hoje. Como poderia estar saindo daqui sem que eu a tenha visto. Eu não fui na plantação porque estou com dor de cabeça e não sai desta cabana um minuto sequer.
    Ana já havia sido mordida pela serpente da desconfiança, não acreditou no que o marido tinha dito, e mais, insinuou que ele estava mentindo. Rafael ficou muito magoado, mas não disse nada. Naquele dia, os dois foram dormir sem ao menos trocar um beijo, o que nunca havia acontecido desde o casamento há mais de cinco anos. O que tinha acontecido, é que Tânia ao passar em frente a cabana do casal, viu que Rafael estava entretido manipulando as ervas, então encostou em uma arvore em frente e ficou observando o homem que tanto desejava. Ao ver Ana se aproximando, virou nos calcanhares e foi embora. Esta, por sua vez, teve a impressão que a rival saia de sua cabana e como não teve tempo nem de raciocinar, cometeu um engano que quase pôs fim ao seu casamento.
    Assim que Jonas voltou da plantação ficou sabendo que a filha preferida adoecera durante a ausência da esposa mais já tinha sido cuidada por Rafael e agora dormia tranquilamente, mas mesmo assim não perdeu a oportunidade de criticar Maila:
    – Você devia ter ficado. Mirla já não estava muito bem quando nós saímos, eu também vi como você passou mal durante o trajeto,  poderia  ter perdido nosso filho.
    Maila ainda muito enfraquecida, mal tinha ânimo para sustentar uma discussão, mas mesmo assim contestou:
    – Maila só está gripada, amanhã estará bem e quanto ao nosso filho, não se preocupe, ele está ótimo. Fico feliz que você se refira a ele como nosso, porque Joninho, você já não considera seu filho a muito tempo.
    Dizendo isso, aconchegou-se ao lado da menina e fechou os olhos.
    Jonas também se deitou, e olhando no teto, pensou nas palavras da esposa.

continuação…

 

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